Carmen Souza e Theo Pascal

Música na Culturgest

Depois de 6 álbuns aclamados pela crítica e pelo público, Carmen Souza e Theo Pascal apresentam-nos agora o seu mais recente trabalho, Epístola. Um disco onde a influência do jazz é mais marcada.

Há mesmo quem diga que se trata de world jazz –, composto por 11 temas cantados em crioulo, português, francês e inglês, que é “uma carta especial feita de sons dirigida a qualquer pessoa aberta a recebê-los”.
Voz, piano acústico Carmen Souza Guitarra Wurly Baixo e contrabaixo Theo Pascal Bateria Shane Forbes Saxofone Nathaniel Facey
Carmen Souza nasceu em Lisboa no seio de uma família cabo-verdiana. Cresceu falando crioulo e português, rodeada da maneira de viver dos seus pais. Autodidata, cantou num grupo português de gospel. Descoberta, aos 22 anos, pelo baixista Theo Pascal, que se tornou no seu produtor e mentor, rapidamente constrói um som inconfundível, servido por um timbre e uma técnica vocal únicos, com uma grande amplitude de voz.
O seu som tem raízes na cultura cabo-verdiana e influências dos ritmos tradicionais africanos, dos da América Latina e do jazz. Sobretudo em Epístola, disco mais improvisado que os anteriores e onde conta com a colaboração de músicos da cena jazzística de Londres, que levou Carmen Souza e Theo Pascal a ficarem associados a uma nova tendência designada de world jazz. Não se trata apenas de uma mudança de rótulos em relação à world music. Este projeto está no centro de algo a que o investigador e crítico Stuart Nicholson, autor do livro “Jazz and Culture in a Global Age”, chamou de “glocal jazz”. A universalização do jazz, que o fez sair dos locais Estados Unidos para o mundo global, pode tê-lo feito perder alguma da sua natureza “folky”, mas tornou-o “glocal”, ou seja, simultaneamente global e local, pois tem absorvido elementos das práticas musicais dos lugares por onde tem passado. No caso de Souza e Pascal, trata-se de inventar um jazz cabo-verdiano, o que pode passar pelo aproveitamento de composições como “Donna Lee”, de Miles Davis, o “standard” coltraneano “My Favorite Things” ou, não podia faltar, “Cape Verdean Blues”, de Horace Silver. Como explica Rui Eduardo Paes, “Algo de tão marcante quanto isto: voltar a conferir etnicidade a uma música, o jazz, que a tinha perdido numa evolução que, por um lado, a intelectualizou e, por outro, a distanciou das raízes africanas, e tanto assim que atualmente os músicos de jazz negros são uma minoria, tal como, inclusive, o público que assiste aos concertos.”
A sua carreira de sucesso tem-nos levado por toda a Europa, mas também por Cabo Verde, Brasil, Estados Unidos e Canadá. Apresentaram-se em festivais de jazz de primeira linha como os de San Francisco, Monterrey, Montreal ou North Sea. Receberam vários prémios e os seus discos têm merecido por toda a parte excelentes críticas. Em janeiro de 2014 lançaram na Culturgest Kachupada, esgotando um Grande Auditório vibrante. Agora voltam para apresentar Epístola. David Sylvian afirmou que “Carmen Souza canta no seu dialeto crioulo nativo com uma intimidade, uma sensualidade e uma vivacidade de extrema leveza. A sua música tem uma enganosa simplicidade e uma claridade rara que derivam de uma mistura única de influências da sua ancestralidade cabo-verdiana, do jazz e da soul, criando este híbrido belo, vibrante, tendencialmente acústico e bastante acessível.” Mas, acima de todas as classificações, importa referir que Carmen Souza e Theo Pascal são de uma originalidade que escapa a qualquer gaveta onde os queiramos arrumar.
Carmen Souza e Theo Pascal
Música | 23 de Janeiro | 21h30 | Grande Auditório
Preço: 18€; Jovens até aos 30 anos e desempregados: 5€