MÍSIA – DRAMA BOX
Mísia é aquele je ne se quoi que não percebemos bem. Sim, até tem uma voz afinada, mas convenhamos que não é nada que nunca se tenha ouvido, numa outra viela mais escondida.
Talvez, seja uma questão de carisma, de imagem, de oportunidade. A Editora também ajuda. E o local. A internacionalização um sonho, a utopia dos indigentes artistas, em Mísia é uma realidade: a fadista portuguesa é uma referência lá fora, a par com Mariza. Estaremos bem representados? Talvez houvesse melhor, mas sim estamos, não precisamos ser depreciativos. Quem luta e chega onde chega não merece críticas.
Quanto ao álbum é uma Drama Box. Fado é saudade, é drama. E o “Fogo Preso” de Vasco Graça Moura parece ser o mote deste disco. Ele é repetido até à exaustão, cantado em guitarras, declamado em Francês, espanhol, alemão… à capella… Talvez não merecesse tamanho destaque: já o adágio diz, o que é demais enjoa. A versão fado e uma recitada, talvez com um piano por trás fosse o mais adequado. De resto, a guitarra é talvez mesmo o outro pecado capital do disco. Quem disse que uma guitarra fazia um fado, ou melhor, que um fado era feito por uma guitarra? Então por isso mesmo, “Yo Soy Maria”, um belíssimo tango, a guitarra era escusada. “Coração Agulha” vale o que vale, deveria ter sido tu, era uma potencialidade e quanto a mim das melhores deste disco. Um lamento crispado e melancólico. Mas mais uma vez lá vem os trinados a “estragarem” o acordeão.
Em suma, um bom disco sem dúvida, de uma já diva internacional, mas… se queremos apostar na novidade, na renovação de um fado, já velhinho, há que renovar a instrumentação! Já estamos fartos de ouvir sempre, sempre as guitarras a cavalgarem como se fossem elas a querer afirmar-se. Se o objectivo é fusão (como o demonstra o acordeão), então haja coragem para a ousadia e elimine-se o que não é necessário!
http://musicologo.blogspot.com
Autor: Tiago Videira