SPIRIT OF THE DANCE

Pernas, para que vos quero

Numa semana de grandes espectáculos, o Coliseu dos Recreios recebeu no dia 28, sábado, mais uma apresentação de “Spirit of the Dance”. Coreografias vibrantes, cor e alegria foram as marcas da noite.

O espectáculo “Spirit of the Dance”, trazido este ano a Portugal pela mão da Terra d’Arte, passou pelos Coliseus do Porto, a 26 e 27, e Lisboa a 28 e 29 de Maio. O Inside esteve lá no sábado, a assistir de camarote a uma das mais alucinantes e híbridas exibições de dança, criada a partir de raízes irlandesas por David King – também compositor do projecto, existente há oito anos.
Formado por cerca de 350 jovens e atléticos bailarinos (e bailarinas), maioritariamente de nacionalidades irlandesa e inglesa e habitualmente espalhados por espectáculos em todo o mundo – a decorrerem ao mesmo tempo, inclusive – , o “Spirit of the Dance” baseia-se num conceito geral de dança enérgica, que nos transporta para o mais tradicional da cultura ancestral irlandesa e, simultaneamente, nos dá nuances de vários outros estilos internacionais, como o flamenco, a salsa, o can can. Todos eles, pressupõem-se, pontos de partida para uma viagem pessoal, em busca de paz, amor, união e alegria.
O “espírito” mostrou-se no Coliseu logo ao início, anunciando o espectáculo com um belo momento de luz e cor em que os bailarinos “despertavam” para a dança: dezasseis em palco (se não me falham as contas, no meio de tanta agitação), mais mulheres do que homens, que mostraram, ao longo da noite, ter mais do que caras e corpos bonitos e ágeis pares de pernas.
A verdade é que, por entre surpreendentes jogos de flexibilidade e um ritmo imparável, os protagonistas do show conseguiram fazer o público envolver-se na viagem proposta: dos kilts e das gaitas-de-foles escoceses à street/urban dance com djambés e calças a arrastar no chão, das sevilhanas aos cowboys e cowgirls, perdeu-se a conta às evocações trazidas pelo “Spirit of the Dance”, tantos foram os cenários vividos em palco.

A par do fascínio pelas luzes e pelos muitos trajes (trocados a velocidade quase supersónica), não faltou à assistência a oportunidade de se expandir também, juntando-se à festa com pequenas (e desastradas!) coreografias de palmas ensinadas pelos bailarinos – aos quais simpatia não faltava, refira-se. De resto, impressionaram também as canções entoadas por uma espécie de fada-bailarina, bem como os momentos em que um violinista frenético tomava conta da actuação – se bem que, mesmo necessárias (para dar tempo aos restantes de se prepararem para a exibição seguinte) estas presenças fossem até certo ponto dispensáveis, dado o seu tom morno e nem sempre convincente em comparação com o resto.
A segunda parte da noite apresentou estilos mais arrojados, como o can can de cabaret e uma exibição de sapateado à boa maneira da Broadway, sempre partindo do típico movimento de pernas da Irish dance – a evidenciar o extremo esforço exigido para tal sincronização, mérito principal dos bailarinos que ocupam grande parte do seu tempo (e dedicação) em ensaios para que nada, mesmo nada, fique aquém dos limites da perfeição.
E, de facto, à excepção de uma ou outra pequena falha entre o grupo (afinal eles são humanos, embora não pareçam…), as coreografias apresentadas foram bem conseguidas e entusiasmantes, presenteando o público com um completo desfile de variedade que culminou numa brilhante e cativante sequência, com todos eles sentados de frente para a plateia, à beira do palco, sacudindo as mãos numa sinergia alucinante.
Depois de recordes de bilheteira em mais de quinze países e de prémios internacionais como o de “Melhor Coreografia” e “Melhor Produção Internacional”, o “Spirit oh the Dance” parece, assim, ter conquistado também Portugal.

Foto: Pedro Cordeiro

Agradecimentos: Terra d’Arte / Inha

Autor: Andreia Monteiro