Confessions on a Dance Floor – Madonna
As eternas confissões de Madonna
Só saiu esta semana, mas já dá que falar há muito tempo. Ou não falássemos do mais recente álbum de Madonna, «Confessions on a Dance Floor», uma autêntica compilação non-stop de música dançante.
Do princípio ao fim, Madonna não dá descanso aos ouvintes neste seu «Confessions on a Dance Floor», sucessor de «American Life» e filho directo deste, de «Music», de «Ray of Light» e de certas reminescências da Madonna-pop-dos anos 80 mais influências dos anos 60 e 70. Uma grande miscelânea, sem dúvida, num trabalho ansiado que, acima de tudo, é mesmo para dançar: o resto são as habituais ‘«confissões» da artista sobre a sua vida de luta, a incompreensão de alguns, a irreverência que sempre a marcou e a descoberta do amor e da espiritualidade, como não poderia deixar de ser.
“Hung up”, o primeiro single, contém a alma dos Abba e dos anos 60/70 e é, juntamente com “Jump”, a canção mais contagiante do álbum em termos de ritmo de dance music. “I have no time to waste”, e lá prossegue a raínha imortal para outros ritmos que, esses sim, marcam a diferença no conjunto do álbum: “Like it or not” lembra as fascinantes canções de Goldfrapp; “Sorry”, a pérola romântica, encena a tristeza no lado oposto de “Paradise (not for me)”,de «Music», e encanta, apesar da letra pouco complexa – como são, de resto, todas as outras letras de «Confessions on a Dance Floor», já que Madonna não optou propriamente pela originalidade e inventividade neste trabalho, parecendo apenas querer embriagar-nos na pista de dança. O que consegue, sem sombra de dúvida, e aí reside o seu mérito nesta fase da sua carreira.
“Future lovers” e “Get together” têm em comum as ambiências futuristas, que se fundem com a batida típica dos 80’s, bem como a filosofia “let’s forget our problems”, ou “make love not war”, “acreditemos no amor à primeira vista”. “Forbidden love”, pela segunda vez título da cantora, (já havia um “Forbidden love” em «Bedtime Stories») prossegue com esta filosofia, sendo um autêntico hino à pureza do amor e do romantismo – em tom de dança, obviamente.
De resto, temos a já esperada menção à espiritualização de Madonna com “Isaac”, talvez a melodia mais complexa do disco, que nos lembra “Frozen” e os ditos do álbum «Ray of Light». Agradável ao ouvido, passa ao lado de “Let it will be” e de “I love New York”, dispensáveis – em particular esta última, liricamente básica e decepcionante, incompreensível até quando comparada com o contexto revolucionário de «American Life», o anterior trabalho discográfico. “How high”, rápida e psicadélica, repete mais uma vez «Music», com as frases “Nobody’s perfect” e “I deserve it” (títulos de canções daquele), deixando no ar novamente a ideia de que, a Madonna, ou se ama ou se odeia: “It’s funny how everybody mentions my name/ but they’re never very nice”. Por último, “Push”, anuncia a simbiose entre os tons de espiritualidade (os “sininhos” a tilintar) e o movimento mais ritmado, apresentando também uma vertente menos “dance music de carrinhos-de-choque” – mas nem por isso se tornando significativamente apelativa.
Resumindo e baralhando estas doze canções, temos um álbum que é indubitavelmente contagiante e que facilmente entra no ouvido de qualquer um, elegia à pop a que Madonna sempre nos habituou e representante do fascínio elevado pela dança – que, ainda assim, «Music» cumpriu melhor, apesar de ser menos acessível. De um lado, temos uma Madonna que regrediu, face a «American Life” e a «Ray of Light», em termos de inovação e de conteúdos («Confessions on a Dance Floor» é efectivamente fraco a este último nível); de outro lado, ela continua a provar que não renega as suas origens, e que está sempre no sítio certo à hora certa – ou seja, o que faz, faz para impressionar.
Madonna renovou-se, e o facto é que ninguém parece estar muito interessado, pelo menos por enquanto, se a qualidade das suas produções teve evoluções ou não. Ela continua a ser a eterna “show girl”, e pouco importam as confissões quando nos deixamos levar pelo ritmo.
Classificação: 6/10
Autor: Andreia Monteiro