DAVID FONSECA

OUR HEARTS WILL BEAT AS ONE

David Fonseca regressa em força ao panorama musical nacional com um explêndido novo álbum, ideal para descomprimir neste invernoso Outono.

Prometia pouco a noite.
A chuva impunha-se em bátegas furiosas e eu quedo contra o vidro, numa quase melancolia e depressão de Inverno. Uma raiva surda numa introspecção quase desesperada, porque obrigatória. Uma guitarra acústica soa lá ao fundo. É “the longest road”, uma balada desesperada em laivos de farrapos. Acusam-me de atirar palavras para o ar. Talvez sem nexo.

As palmas em “Come into my heart II”, deixam-me com um sorriso nos lábios. É algo já visto nos tempos de “Empty happy song” dos defundos Silence4. Mas David continua a sabê-las usar bem. Imprimem sempre aquele ar de alegria contagiante num pop rock a roçar a genialidade de quem nos quer entrar no ouvido e não mais de lá sair.

O single de abertura, esse sim, é ousado. “Who are you?” não é de fácil digestão. Confesso que já o conhecia, talvez mesmo antes de o ouvir. É uma daquelas canções que vem de longe, de um dejà vu existêncial em fade in e quando chega já cá está. Mas tende a passar despercebido e a ir-se embora sem que lhe demos o devido valor. Talvez só à quarta ou quinta audição.

Desta vez até a língua de Camões tem direito a existir. Num sussurro, um lamento, um segredo ao meu ouvido, secundado pelo tempo que não pára num relógio hipnotizante. “Adeus, não afastes os teus olhos dos meus”.

“When you hit the floor” é talvez o mais sombrio momento, mas ao mesmo tempo o acordar para o mundo. E não nos podemos queixar da realidade que temos, apenas viver com o que o tempo nos dá. Sobreviver com uma guitarra.

Mas David é isto tudo. É um momento solitário passado no quarto à noitinha, porque não podemos sair de casa, estamos demasiado deprimidos para tudo e só queremos ouvir histórias mais tristes que a nossa, com as quais nos identifiquemos. E assim os nossos corações batam como um só.

Autor: Tiago Videira