ELES (AINDA) VIVEM…E RECOMENDAM-SE

“Waiting for the Siren’s Call”, dos New Order

Quatro anos depois do regresso, com “Get Ready”, os New Order apresentam “Waiting for the Siren’s Call” e provam que, mesmo não exibindo o fulgor de outros tempos, continuam recomendáveis.

Ocupando um lugar entre as bandas mais relevantes e influentes dos anos 80, através da combinação dos universos do rock e da electrónica efectuada em discos marcantes como “Power, Corruption and Lies” ou “The Brotherhood”, os New Order passaram, depois dessa fase áurea, por um período de menor inventividade, reciclando as ideias que haviam exposto nos seus primeiros registos.

“Republic”, de 1993, apesar de bons singles como o mediático “Regret”, apresentou um nível qualitativo abaixo do esperado, e “Get Ready”, de 2001, manteve essa irregularidade, reforçando a carga rock mas não gerando grande entusiasmo, ainda que temas como “Crystal” ou “Vicious Streak” tenham provado que a banda ainda era capaz do melhor.

O recente “Waiting for the Siren’s Call”, de 2005, não volta a colocar os New Order no grupo dos projectos mais criativos do momento, dadas as escassas cargas de novidade que contém, mas pelo menos consegue ser o álbum mais coeso do grupo desde o emblemático “Technique”, de 1987.

Apostando numa pop electrónica que raramente se manifestava no seu antecessor, o novo trabalho da banda não reinventa nada, antes adapta a sonoridade característica do grupo ao presente com competência, proporcionando um conjunto de canções que, embora não estejam ao nível de clássicos como “Blue Monday” ou “True Faith”, conseguem constituir um resultado interessante.

O primeiro single “Krafty”, New Order vintage, combina eficazmente melancolia e esperança, elemento que se manifesta em grande parte dos temas do álbum. “I Told You So” envereda por coordenadas algo inesperadas, com travos quase reggae; “Dracula’s Castle” é uma vibrante pérola pop; “Jetstream”, com Ana Matronic dos Scissor Sisters, destaca-se como uma óptima aposta para uma playlist com bom gosto; e “Guilt is a Useless Emotion”, com um refrão que não destoaria numa canção de Kylie Minogue (!), oferece viciantes atmosferas dançáveis.

Num período em que novos projectos como os Interpol, The Killers ou The Bravery expõem óbvias reminiscências de sonoridades da década de 80, os New Order comprovam que, para além de veteranos influentes, ainda são capazes de criar um álbum que, mesmo não estando entre os seus melhores, também não envergonha ninguém.
“Waiting for the Siren’s Call” não é um grande disco, e às primeiras audições até desilude, mas merece ser ouvido com atenção, pois a voz de Bernard Summer e o baixo de Peter Hook continuam profícuos e envolventes.

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Autor: Gonçalo Sá