LANÇAMENTO / RAP INDÍGENA: Kunumí MC lança clipe de seu novo single: Xondaro Ka’aguy Reguá (Forest Warrior)
Rapper canta sobre a luta dos povos indígenas no Brasil
Kunumí MC no clipe de Xondaro Ka’aguy Reguá (Forest Warrior) dirigido pela Angry Films
Werá Jeguaka Mirim é o nome de Kunumí MC. Com dois discos já lançados, o EP de estreia, My Blood is Red (2017) e o álbum Todo Dia É Dia de Índio (2018), Kunumí MC lança agora o single Xondaro Ka’aguy Reguá (Forest Warrior), que ganhou clipe, dirigido pela dupla da Angry Films, Bruno Silva e Gabe Maruyama.
A música retrata a realidade dos povos indígenas de força e resistência, desde a invasão dos portugueses até o presente momento, sob a visão de um indígena. Kunumí conta que a ideia do clipe foi retratá-lo na aldeia Krukutu, onde vive em Parelheiros (SP) e também na capital, São Paulo: “o vídeo tenta mostrar a diferença que é para o indígena entre viver na aldeia e na cidade. Aqui, na aldeia, o indígena vive melhor, porque esse é o nosso lugar. Não só o nosso lugar, mas deveria ser o lugar de todo mundo, né? A natureza, né?”, diz Kunumí.
Além disso, os diretores Gabe e Bruno, que também dirigiram outro clipe de Kunumí, O Kunumi Chegou, comentam sobre a produção: “o vídeo é sobre um guerreiro dotado de poderes, uma ficção futurista mas também muito atual. No filme, Kunumí se transforma em fogo, universo, folhas… Contos fazem parte da cultura Guarani, e neste conto que criamos, retratamos a nova geração de indígenas que usam a educação, a arte e a tecnologia para defender e proteger seus povos e as suas terras. O filme é uma homenagem a todos os povos indígenas do Brasil e do mundo, e também um manifesto à liberdade criativa que os permite, como seres humanos, tomarem suas decisões individuais como cantar rap, escrever livros, ter uma carreira, transitar por outras culturas e mesmo assim, não deixam de ser indígenas”.
Sobre a letra da música, em guarani, o artista comenta: “a letra é uma letra forte, fui eu que escrevi, mas as palavras não são minhas, né? Junto comigo vem a ancestralidade, o meu povo sofrido, e isso me faz fortalecer e a cantar mais e mais, não desistir. Quando eu canto, não canto sozinho. Quando eu canto, na minha própria língua, junto vem o meu povo do passado, massacrado e escravizado, que sofreu muito e me traz força pra cantar e pra escrever”. Já a produção da música é assinada por Fadel Dabien, que traz samples de violino indígena com referências de trap music e reggaeton unidos ao canto Guarani, uma peça atual que também é o retrato de um novo movimento cultural, o futurismo indígena.
Trajetória
Kunumí conta que começou a escrever desde pequeno, aos seis anos viu florescer a vontade de escrita muito influenciado pela mãe, Maria Kerexu, e pelo pai, Olívio Jekupé – que é escritor e já lançou 19 livros de literatura nativa, que vão desde poesia, contos indígenas, romance a textos críticos. Aliás, Kunumí já tem dois livros lançados também – um com o irmão, Tupã Mirin, chamado Contos dos Curumins Guaranis e outro que ele escreveu sozinho, Kunumi Guarani.
O livro de poesias do seu pai, 500 anos de Angústia, foi o que mais impulsionou Kunumí a começar a fazer rap. Inspirado pela poesia que leva o título do livro, ele escreveu uma também e aí “decidi transformar essa poesia numa música e percebi que parecia muito com o rap, porque era uma letra de protesto e tinham muitas rimas. Eu já gostava muito de rap também, então, decidi ser um MC e me apelidei de Kunumí MC”, conta. E completa: “meu rap é diferente por ser indígena e também pela melodia e o ritmo de cantar, que é próprio meu, além disso, canto em guarani”.
Sobre as influências musicais, Kunumí MC aponta outros artistas indígenas, como o grupo Brô MC’s, o rapper Oz Guarani, a rapper Katu Mirim, além do grupo Racionais MC’s e do Criolo, com quem, inclusive, gravou a música Demarcação Já – Terra Ar Mar. Deste encontro com Criolo também gerou o mini doc Meu Sangue É Vermelho, dirigido pela produtora inglesa Needs Must Film.
LETRA
(em português)
Existe uma lenda Guarani muito antiga,
contada pelo nossos ancestrais
Ela diz que das águas nascerá um guerreiro que
levará o seu povo a uma nova existência.
Antigamente na floresta havia muitas frutas para comer
Muitas frutas para comer…
Mas os brancos vieram e destruíram
tudo o que Deus criou
Mas os brancos vieram e destruíram
tudo o que Deus criou…
Nós Guaranis sempre existimos,
a mais de 519 anos resistimos
Nativos e originários dessa terra, Brasil
Desde mil e quinhentos vivemos em guerra
Nosso povo foi oprimido e dizima
dopor não aceitarmos ser escravizados
Desprezaram nossa ciência e tecnologia,
conhecimento milenar da floresta
E agora vemos na TV alertas de aquecimento da terra
Extinções em massa, e continuam destruído
nossos rios e nossas matas
E pra você sou eu que estou errado por usar internet
e não andar pelado, isolado…
Pensamento colonial retrógrado e limitado,
pois pra mim ser indígena é me sentir e ser livre,
transito pela arte e preservo minha cultura
Na minha aldeia existe resistência
eu rimo na minha própria língua,
denunciando e lutando
pela demarcação
Invadiram as nossas terras…
As florestas para nós indígenas
sempre foram sagradas
e tudo isso foi Deus que criou,
Os portugueses vieram
e mataram muitos animais, os pássaros morreram
Não respeitaram a nossa cultura,
destruíram as nossas florestas
e o medo continua instaurado
Antigamente na floresta havia muitas frutas para comer
Muitas frutas para comer…
Mas os brancos vieram e destruíram
tudo o que Deus criou
Mas os brancos vieram e destruíram
tudo o que Deus criou
Tudo o que Deus criou…
FICHA TÉCNICA
Dirigido e Produzido por: ANGRY (@gabemaru e @angry_bruninho)
Roteiro: Bruno Silva
Estrelando: Kunumi MC
Direção de Fotografia: Alexandre Vianna
Direção de Arte: Angry + Alexandre dos Anjos
Pinturas Corporais: Alexandre dos Anjos + Marcia Maruyama
MōVI / Subaquáticas: Renato Passarelli
1 ass Câmera / foquista: Helio Takemoto
2 ass Câmera: Lucas Fodor
Estagiária de Câmera: Lorena Gebara
Fotógrafo Still: Gui Christ
Gaffer: Tiego de Jesus
Assistente de Produção: Marcos Maruyama
Assistente local: Tupã Mirin
Motoristas: Gomes, Marcelo, Frota de Cinema
Edição: Gabe Maruyama e Fernando Freitas (Magnata)
Tratamento de Cor: Lutz Foster C.S.I / Liquor Media
Design Gráfico – VFX: Igor Ribeiro / Mistika Post
3D: Casinha
VFX: Sam Dias
Produção ANGRY + AVNOVE
Estúdio de Gravação: Matéria Rima
Sound Design: Lucas Moreno
Composição e Produção Musical: Fadel Dabien
Tradução (legendas): Português – Kunumí MC, Inglês – Sam Dias, Nina Elliott