NOSTALGIA MODERNA

Humanos em forma em Lisboa na passada terça-feira

Na sua primeira actuação no Coliseu de Lisboa, os Humanos asseguraram uma inspirada estreia que conquistou os muitos espectadores presentes. Se o disco já era bom, ao vivo os resultados são ainda mais surpreendentes.

Autêntica pedrada no charco no panorama musical português, os Humanos surpreenderam, no final de 2004, com um disco que recuperou algumas canções “perdidas” de António Variações e as adaptou ao presente.

O resultado foi um álbum recebido com unanimidade pela crítica (presença constante nas listas de melhores do ano) e pelo público (conquistou rapidamente os lugares cimeiros do top de vendas).

Manuela Azevedo, Camané, David Fonseca, Nuno Rafael, Hélder Gonçalves, João Cardoso e Sérgio Nascimento foram os responsáveis pelo projecto que trouxe alguma vitalidade à nova música portuguesa, e estiveram presentes no Coliseu de Lisboa no passado dia 28 de Junho, assinalando a sua estreia nesse palco.

Reunindo um público que não era dos 7 ou 77, mas quase – entre velhos admiradores de Variações e jovens ouvintes mais familiarizados com os músicos dos Humanos -, a noite comprovou que o (super)grupo convence não só em disco mas também (e sobretudo) ao vivo, tendo em conta o portentoso concerto.

Uma das marcas evidentes do espectáculo foi a vertente mais rock da maioria das canções, que exibiram uma carga mais dinâmica e enérgica do que as versões do disco. Esta opção possibilitou que as reacções do (vasto) público fossem ainda mais efusivas, suscitando aplausos constantes por parte de uma audiência que se rendeu logo nos primeiros minutos e permaneceu devota durante as quase duas horas do espectáculo.

Entre piano e guitarras, passando pelas pandeiretas e cavaquinhos, o alinhamento foi ecléctico e equilibrado, apostando não só nos já esperados temas do álbum mas também em novas versões, casos de “Oh My Love”, de John Lennon; “This Town Ain’t Big Enough for Both of Us”, dos Sparks (com um óptimo contraste entre Manuela Azevedo e David Fonseca); o insinuante “Hardcore (1º Escalão)”, dos GNR; e “Flores”, dos Titãs.

Hits como “Muda de Vida” ou o obrigatório “Maria Albertina” (interpretado duas vezes) despoletaram grandes momentos de sintonia entre os músicos e os espectadores, mas a noite registou outros episódios fortes como o excelente “Não me Consumas” ou uma surpreendente versão de “Amor de Conserva” (intensificando a carga electro que se manifestava timidamente no disco mas que adquiriu ao vivo uma vibração hipnótica e de viciante apelo dançável).

Manuela Azevedo, Camané e David Fonseca apresentaram não só vozes em boa forma mas também uma postura dedicada, emanando uma energia contagiante e incansável.

Outros momentos-chave da noite foram as revisitações às canções clássicas de Variações, desde “Anjo da Guarda” e “Estou Além” até aos inevitáveis “O Corpo é que Paga” e “É p’ra Amanhã” (que encerrou o segundo e último encore do concerto).

O balanço da estreia dos Humanos no Coliseu de Lisboa foi, então, claramente positivo, e aguarda-se já com alguma expectativa e edição do CD e DVD com material gravado neste e noutros espectáculos, porque concertos como este merecem sempre ser recordados…e provam que o que é nacional também pode ser bom…

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Autor: Gonçalo Sá