PATO FU – MÚSICA DE BRINQUEDO
Quando uma banda edita o seu décimo álbum as coordenadas estão há muito definidas,
previligiando-se normalmente um caminho seguro ou mantendo as sonoridades que
tiveram maior acolhimento popular.
No caso dos Pato Fu a ideia foi outra. Encontrando inspiração na popular série
televisiva “Os Marretas”, e reflectindo o facto dos membros do grupo se terem
tornado pais, apostaram na recriação de 12 clássicos brasileiros e anglo-saxónicos
interpretados com instrumentos infantis.
O resultado deste atraente e inovador capítulo de pop interessante é positivo. Se é
verdade que “Ovelha Negra”, de Rita Lee ou “Live and Let Die”, de Paul McCartney
não fogem muito dos originais, existem algumas surpresas a merecerem destaque.
Desde já saúda-se a versão de “Rock and Roll Lullaby”, pelo efeito criado de caixinha
de música e em que existe um crescendo subtil. Curiosa é também a rendição de “Pelo
Interfone” onde a voz melodiosa de Fernanda Takai casa na perfeição com a calculadora
casio, vulgo teclado, construindo um autêntico carrossel pop.
Não posso omitir a cover de “Ska”. Mais uma vez estamos no reino da música popular
pura e um saxofone de brinquedo abre caminho para o encontro do coro infantil com a
vocalista dos Pato Fu, resultando uma versão renovada do tema dos Paralamas do
Sucesso.
“Música de Brinquedo” com toda a sua panóplia de instrumentos miniatura não é
necessáriamente um trabalho para crianças, uma vez que procura relembrar a validade
de faixas intemporais, vestidas com novas e aventurosas roupagens.
Trata-se também de uma manifestação de personalidade e de ousadia. Uma vez
mais o agrupamento de Belo Horizonte mostra que está à frente do seu campeonato,
explorando e pesquisando as possibilidades sonoras como se tratasse de um alquimista.
O futuro do conjunto brasileiro é radiante. E se o novo álbum prova uma vez mais
que não fazem o mesmo disco duas vezes seguidas é de esperar que essa audácia
continue a encantar os seguidores de um dos casos mais interessantes da pop cantada
em português.
Autor: Pedro Salgado