YOKO ONO

YES, I’M A WITCH!

Yoko Ono, a vanguardista mais célebre do séc. XX, está de volta aos escaparates com um duelo de ficção científica musical.

É assim que se pode definir o novo disco “Yes, I’m a witch”. Nele, a viúva de Lennon, aproveita para revisitar toda a sua carreira e oferecer-lhe uma roupagem moderna.

Yoko said! Ela empenhou-se a fundo e foi recrutar pessoalmente artistas de seu gosto numa vertigem eclética sem precedentes: Schocklee, Peaches, Shitake Monkey, Le Tigre, Porcupine Tree, DJ Spooky, Cat Power, Flaming Lips, Craig Armstrong ou o inusitado Anthony dos Johnsons, entre outros.

Ono manteve o seu registo vocal inalterado, dentro de um âmbito alargado e maleável. Podemos mesmo afirmar, plástico, já que é com certeza o melhor adjectivo para descrever a sua inconfundível voz. Depois, pediu à sua legião de colaboradores recrutados que se divertissem nos instrumentos. O resultado é absolutamente colorido: uma mancha esparsa e difusa dá uma cor sem princípio nem fim no espectro. O álbum é toda uma colecção de temas que se perdem sem fio nem meada e nele é possível encontrar vestígios de vanguardismo depressivo (Toy Boat) a baladas quase sentimentais (Death of Samantha) a rocks poderosos (I’m moving on).

A pérola do disco, no entanto, fica apontada para “Revelations”, uma faixa com os Cat Power, instrumentada apenas com um piano distorcido, talvez a mais simples e intimista de todas. A razão? Aquela faixa que melhor nos traz a sombra de Lennon. Esta poderia ser uma canção de John Lennon e Yoko Ono, aquela canção que os dois eternos amantes cantariam juntos pela paz no mundo. E a sombra de Lennon é sempre essencial em Yoko, já que é ela própria que o afirma, que não está interessada em sair dela.

Um disco para nos exorcizar a alma.

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Autor: Tiago Videira