Atom Size Elephant

Um projecto de música electrónica para ver ouvir e sentir!

Estes três músicos de correntes musicais distintas, abraçaram a ideia no espírito de fusão das suas vivências musicais.

Atom Size Elephant
Um projecto de música electrónica para ver ouvir e sentir!

Confesso, que ao indicarem-me no jornal para ir “fazer” o espectáculo dos Atom Size Elephant, não fazia a ideia do que ia assistir. Supunha que era mais um concerto dos muitos que por ai andam com mais ou menos três horas de duração, e muitos decibéis a mistura. Nada mais errado!
O que assisti, foi um projecto musical, digno deste nome, e onde apenas se vislumbrava no palco, uma mesa com dois pratos gira-discos, um computador, muitos discos de vinil de 33 rpm, e 3 músicos. (Sim, músicos, do s.m. – indivíduo que sabe de música)
O cenário propositadamente escuro, rasgado várias vezes pela luz dos projectores, onde as formas, ainda que, estereotipadas dos intervenientes, prendiam a atenção das não muitas pessoas que quiseram ver “in-loco” o que o grupo queria transmitir.
Em fundo, é-nos mostrado por diversas vezes a ideia de destruição ambiental, com imagens de florestas agonizantes, de chaminés das fábricas a vomitarem toneladas de partículas indesejáveis dos produtos químicos que tudo fazem crescer para mais depressa morrer, da corrida vertiginosa em que nos deslocamos, em contraste com as melodias magistralmente executadas para “relax” total dos nossos ouvidos.
Oriundos do Seixal, os Atom Size Elephant são uma formação musical constituída por Heitor Alves (samplers, sequenciadores e percussões), e por mais dois baixistas: Paulo Vicente e Nuno Carvalho. Estes três músicos de correntes musicais distintas, abraçaram a ideia no espírito de fusão das suas vivências musicais, “brincando” de uma forma descomprometida com os instrumentos, com as referências musicais e com os próprios temas instrumentais escritos e interpretados por este colectivo artístico.
Texto e fotos: JOSÉ PINTO

A entrevista:

INSIDE: Como entraram na música?
Começou dos mais novos. Entrei na música por influência do Paulo, porque o conhecia. Antes não tinha qualquer experiência musical. Comecei a fazer parte de algumas coisas que ele fazia, de resto, e com o andar da carruagem, fui sempre atrás do som da música e aqui estou hoje. Foi mesmo essa a minha base.
INSIDE: O nome do vosso grupo está em inglês. Será porque soa melhor?
Soa. Se formos traduzir o nome para português, fica assim um bocado estranho, e além disso gosto do som das palavras, não por ser em inglês, mas porque eu já tinha este nome fixado a muito tempo. De facto o nome em português traduzido a letra é mais ou menos assim: elefante metido num átomo. Não dá muito jeito, enrola-se na língua, em inglês soa melhor.
INSIDE: Quem são vocês?
Eu sou o Nuno Carvalho, sou baixista, levo a música como um hobby, dou aulas de música, e na altura fui convidado pelo Heitor para fazer parte deste projecto, e como era algo de novo e tinha um carácter experimental aceitei.
INSIDE: Sempre se interessaram por este tipo de música?
Sou o Paulo Vicente, também sou baixista. Nunca foi o meu estilo. A minha base é mais “rock”, música mais pesada, “Heavy Metal” mesmo, e este projecto como disse é diferente, é interessante, por isso é que eu estou aqui.
INSIDE: Desde o momento em que vocês pensam numa canção, até esta ser o vosso produto, quanto tempo medeia?
Essa é uma parte engraçada. Temos uma base de trabalho assim um bocado estranha. Primeiro damos o nome à música, depois improvisamos, inventamos qualquer coisa, e a partir dai trabalhamos essa música. Isto é um processo que pode demorar pouco ou muito tempo, é imprevisível e muito relativo. É assim como, primeiro dá-se o nome ao bebé, e depois vamos fazê-lo.
INSIDE: Não é tão vulgar ouvir concertos de grupos como o vosso. Têm tido aceitação?
Sim, muita.
INSIDE: Têm discos gravados?
Não, mas isso para nós não é uma questão proeminente, porque nós gostamos de tocar ao vivo. As nossas músicas assumem um carácter que acaba por ser efémero no momento, mas depois acaba por se prolongar. O nosso processo de criação não se limita ao ensaio, vai-se gerando ao longo do tempo, e as músicas por si só vão-se transformando, não é algo que se feche ali logo. Regeneramos a música, dentro de novas visões, é algo que é extremamente orgânico. Eu acho que é sentido, torna-se mais feliz, caracteriza melhor o nosso trabalho que é algo muito vivo, muito expontâneo e que surge no momento.
INSIDE: Este espectáculo foi gravado ao vivo para posterior audição via Internet. O que pretendem com isto?
Como há pessoas que gostam do nosso tipo de música e nos conhecem, não pessoalmente é claro, mas de outras formas, como por exemplo, pela Internet, e como temos outros meios de utilizar para a divulgação dos nossos trabalhos, e visto que as pessoas gostam do nosso trabalho, mas que vivem no Porto ou no Algarve, desde já estão convidados a navegar na Internet e a saborearem o nosso som.
INSIDE: A vossa música, parte do nada, dalgumas influências de imagens do dia-a-dia, do quê?
Não estamos preocupados com isso. Nós estamos a fazer aquilo de que gostamos. É o projecto, não é uma brincadeira, levamos isto muito a sério.
INSIDE: Acham que têm mercado potencial?
Era bom, era bom. Propostas aceitam-se!
INSIDE: Com a possível reorganização do MP3 (música via Internet), não será mais difícil a divulgação dos vossos trabalhos, como o que apresentaram neste espectáculo?
Não, porque vamo-nos manter numa base fiel ao MP3, nós somos a favor desta ideia, e todas as nossas músicas vão ser transmitidas e postas on-line. Quem as quiser “sacar” para gravar, têm toda a nossa liberdade, desde que respeite os direitos de autor pode estar á vontade, até pode remisturar, que nós não nos importamos
INSIDE: Este género musical, destina-se prioritariamente a que faixa etária?
Não sei! Talvez a partir dos 20. Depende do próprio espirito da pessoa, na altura. Temos músicas que dão para crianças género calmo, relaxante, ou músicas para abanar o “capacete”, curtir mesmo.
INSIDE: Projectos para o FUTURO?
Continuar a trabalhar nisto. Têm aparecido várias colaborações. Como nós temos uma plataforma musical, claramente instrumental, desculpe a redundância, apareceram já alguns convites para trabalharmos em colaboração com outros projectos não obrigatoriamente musicais. Apareceu-nos uma determinada proposta muito válida, e vamos cooperar com eles na realização de um espectáculo inspirado na vida de Bobby Sand’s, e para além disso, estamos a tentar outras colaborações, como por exemplo, curtas – metragens, teatro, vídeo, cinema, bandas sonoras para animações artísticas, etc. Como o nosso trabalho é algo extremamente versátil e moldável, serve para muita coisa. Queremos comunicar com outras linguagens.
INSIDE: Falou-me em Bobby Sand’s. Isto leva-nos ao problema da Irlanda, ao estilo revolucionário, há primeira greve de fome assumida…
Nós, ainda temos que definir, como vai ser a linguagem do próprio espectáculo, e como vai ser a forma. Mas acho, que, como vivemos numa sociedade onde não existem verdades absolutas, aparecer um homem que se recusa a colaborar com quem não quer, isto não pode ser considerado “bluff”, e durante algum tempo fez uma greve de fome que o acabaria por matar. O conhecimento e a orientação da coreografia do espectáculo, não é tanto, dar ênfase ao homem político mas sim, dar ênfase ao Homem, e o que foi preciso a um homem para ganhar a coragem e sofrer o medo que passou para fazer durante mais de dois meses, uma greve de fome, assumir a atitude, e levar depois da sua morte, no imediato, mais dez homens a acreditarem no seu ideal.
INSIDE: Foi uma bola de neve?
Foi, obviamente, para além do impacto político que questão teve. Nós não queremos falar das razões deste acto. Queremos apenas falar do sacrifício, no espectáculo em causa. Vai-nos dar muito trabalho. Mas vamos conseguir!

Texto e Fotos: José Pinto

Autor: inside
Data: 05/03/03