CARLOS VIDAL- AS «HISTÓRIAS» DO AVÔ CANTIGAS

CARLOS VIDAL- O AVÔ CANTIGASFoi no saudoso programa televisivo da RTP «O Passeio dos Alegres», apresentado e concebido por Júlio Isidro, que o cantor e músico Carlos Vidal fez, em 1982, a sua aparição perante o grande público no papel do Avô Cantigas, uma figura simultaneamente doce e truculenta, que, desde então, passou a fazer parte do imaginário de milhares de crianças deste país, muitas delas já pais de muitas outras crianças. E foi essa onda de sucesso, transmitida de pais para filhos que permitiu que, 23 anos depois, o Avô Cantigas se mantenha vivo e actuante, numa imagem agora revitalizada através da edição do CD e da representação da peça «Canta-me Histórias».

INSIDE – O que é ser o Avô Cantigas há 23 anos?
CARLOS VIDAL – É sobretudo a capacidade, e o prazer de inventar, ou talvez melhor, de recriar, em cada representação, um personagem que passou a ser quase o meu «alter ego», parafraseando Fernando Pessoa, mantendo no entanto aquilo que ele tem de essencial na sua estrutura cénica.
E esse facto tem sido profundamente motivador, dada a receptividade que o Avô Cantigas continua a ter entre as crianças deste tempo, como o posso verificar no espectáculo agora em cena, concebido a partir do CD «Canta-me Histórias».

INSIDE –E como surgiu a ideia do CD?
CARLOS VIDAL – A ideia surgiu como uma forma de contar e cantar histórias já conhecidas, acrescentando-lhes sempre algo de novo, na óptica do personagem central que continua a ser o Avô Cantigas. Por exemplo, na história do «Capuchinho Vermelho», afinal o clássico Lobo Mau está apaixonado pela Capuchinho Vermelho e ela, ao aperceber-se disso, aproveita-se e torna-se vaidosa e autoritária, ou seja, nesta história o desgraçado, ou a vítima, já não é a Capuchinho mas o Lobo.
E essas adaptações são igualmente visíveis noutras histórias famosas como na da «Carochinha» ou na do «Ali Babá», ou noutras menos conhecidas como a dos «Bodes Barulhentos» ou da «Família Mamé».
E como a RTP se quis desde o início associar a este projecto, foi natural que nele participassem, na narrativa das histórias, nomes conhecidos da estação, como Jorge Gabriel, Serenela Andrade ou Júlio Isidro.

INSIDE – Mas quando o CD foi concebido já existia a intenção de transformá-lo numa peça teatral?
CARLOS VIDAL – O projecto já estava subjacente, mas ele só começou a materializar-se quando, após o lançamento com sucesso do disco, conseguimos a adesão de outras entidades para além da RTP, tendo igualmente sido determinante a existência de um espaço com as condições privilegiadas do Cinema Mundial, em boa hora transformado em sala de teatro, para que a peça fosse estreada, num espectáculo em cena aos sábados e domingos, a partir das 15 horas, e que para além da narração e das cantigas tem ainda a colaboração da mimo belga Sophie Leso, que vive em Portugal e que tem a seu cargo a encenação e os movimentos.

INSIDE – Tivemos conhecimento de que parte dos lucros do CD e da peça revertem para o Instituto Português de Oncologia. Há alguma razão especial para que isso aconteça?
CARLOS VIDAL – Tudo se deve ao enorme carinho, e proximidade afectiva que tenho para com a Secção de Pediatria do Instituto, onde desde há muitos anos me habituei a proporcionar às crianças ali internadas uma tarde diferente com a presença sempre bem disposta, e por isso mesmo estimulante, do Avô Cantigas, pois gosto de transmitir alegria às pessoas, sejam elas crianças ou adultos, a quem a vida pregou uma partida dolorosa. E para ajudar as boas causas eu estou sempre disponível.

INSIDE – Como epílogo desta entrevista quer-nos contar um pouco dessa bela odisseia, que, como acontece nas histórias de encantar, bem pode começar «era uma vez uma personagem chamado Avô Cantigas …»?
CARLOS VIDAL – Já contei por diversas vezes essa história, mas é sempre com redobrado prazer que o faço: tinha 27 anos e eu e o António Avelar de Pinho, que tem sido o meu parceiro nestas andanças, ao longo dos tempos, pois costuma escrever as letras, enquanto eu faço as músicas, sentámo-nos à secretária a pensar e nasceu o personagem Avô Cantigas. Depois tivemos a sorte de ter tido um lançamento muito eficaz como figura televisiva no «Passeio dos Alegres», que foi um programa que conheceu um sucesso estrondoso..
Como disse, na altura tinha apenas 27 anos e agora tenho 50. Ainda nem era pai e tornei-me em «avô» sem sequer ter filhos. Actualmente, tenho dois filhos, um de 21 anos e o outro de 17, mas ainda nenhum deles me deu um neto, pelo que o avô na vida real é o António Avelar de Pinho, que já tem um neto a sério, o Francisco.
Mas, em contrapartida, eu também tenho os meus milhares de netos, e até já bisnetos, embora adoptivos, que são todos aqueles que gostam de ver, de ouvir e de confraternizar com o Avô Cantigas.

Autor: Manuel Geraldo