Citemor continua em Montemor-o-Velho

 

O festival entra na segunda semana do programa com duas noites dedicadas ao espectáculo de Sónia Baptista e a apresentação final do workshop com John Romão e Silvia Costa, em Montemor-o-Velho. Em Coimbra, ainda podem ver os LOOPS.LISBOA, na Casa das Artes Bissaya Barreto

Sónia Baptista começou a criar “Triste in english from spanish” a partir da sua própria tristeza tentando tocar, a partir dela, na tristeza do mundo em geral. A tristeza é o motor da criação deste espectáculo que é teatro e dança em diálogo com várias outras artes, e que não é, de todo, triste, pelo contrário. Encarar a tristeza para viver melhor, a tristeza como alavanca para a saúde, o uso da tristeza para um mundo melhor, a tristeza como ferramenta de intervençãi e como algo transformador, o direito à tristeza como algo positivo e necessário. Esta peça, que afinal até é divertida, nasceu da tristeza que a criadora sentia sobre questões como a opressão das mulheres e a exploração dos recursos do nosso planeta, e aborda um assunto muito difícil, a depressão, tema tabu para os portugueses que são dos maiores consumidores de antidepressivos. “Quanto mais se foge de uma coisa, mais perto ela permanece, quanto mais se evita pensar em coisas tristes, mais elas invadem o pensamento”, conclui a autora. “Triste in english from spanish (redux)” é apresentado nos dias 1 e 2 de Agosto, pelas 22h30, no Teatro Esther de Carvalho, em Montemoro-Velho. John Romão regressa ao Citemor com Silvia Costa para a apresentação de “As Tentações de Santo Antão”, o resultado final de um workshop de formação e pesquisa teatral que está a decorrer, neste momento, em Lisboa, e terminará em Montemor-o-Velho. Baseado no discurso visionário de Gustave Flaubert e no poder da imaginação que emana da sua obra, a obra debruça-se sobre o interesse pela figura de Santo Antão, muito estudada na história da arte, relacionando-se com uma procura do sentimento de culpa, de consciência pessoal, de ética de cada um, cuja manifestação no nosso tempo parece precisar de uma renovação, de um novo posicionamento. 3 de Agosto, às 22h30, na Sala B, em Montemor-o-Velho. Ainda em Coimbra, e até 3 de Agosto, a instalação LOOPS.LISBOA, – uma parceria do Festival Temps d’Images e do Museu Nacional de Arte Contemporânea/Museu do Chiado (MNAC) – pode ser visitada na Casa das Artes Bissaya Barreto, das 15h às 19h. Rodrigo García continua em residência para a criação de uma nova obra a apresentar a 8, 9 e 10 de Agosto. O festival propõe ainda criações de Susana Paiva, Teatro do Vestido e Rocío Molina. No acesso a todos os espectáculos do festival é o espectador que define o preço do bilhete.

Mais informações em www.citemor.com

Julho Loops.Lisboa 25 Quinta – ABERTURA 26 Sexta / 3 Agosto (15:00/19:00) – Casa das Artes Bissaya Barreto, Coimbra

Loops.Lisboa resulta de uma parceria do Festival Temps d’Images e do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (MNAC), a que o Citemor está associado desde a primeira edição. Este ano apresenta um conjunto de obras, seleccionadas entre 197 submetidas, que marcadamente possuem o “manual”, o “mecânico”, o “artesanal” ou mesmo o “sujo”. “Aquela velha questão do som e da imagem”, de João Bento, brinca com o sync audiovisual, sobrepondo camadas de informação diante de um plano fixo, para criar um loop-janela de beleza particular, directamente associado à lógica do pré-cinema. “Período Azul”, de Mané, combina o papel, a cor azul e algumas obras icónicas da Arte dos séculos XX e XXI para estabelecer um loop conceptual construindo um ciclo de inter-relação e permanência. E “O Guarani (direita ou esquerda)”, de Letícia Larín, empurra-nos para um loop formal e semiótico desconcertante, ao retratar o catastrófico momento social e político do Brasil. O mais fascinante deste encontro de obras reside na sua capacidade de ultrapassar a dimensão “analógica” representada por canetas, papéis, tintas, manivelas, fotografias… O que as une, sobretudo, são conceitos atemporais como o desejo pela materialidade, a inteligência do contexto e a busca pelo bom senso. De forma muito vincada, todos reflectem uma essência filosófica por trás do loop: todas as coisas pertencem a ciclos. Life is a loop. E a Arte possui o dom essencial de o demonstrar.

Júri de Pré-seleção: Irit Batsry (presidente), Alisson Avila e António Câmara Manuel Júri de Premiação: Emília Tavares (presidente), Isabel Nogueira e Sandra Lischi

JOÃO BENTO // Aquela Velha Questão do Som e da Imagem Uma paisagem que se move (através das bobines encontradas num cinema velho e devoluto), um observador fixo e uma banda sonora. Este vídeo corresponde a um período de pesquisa e investigação levado a cabo no final dos anos 90, na qual explorava exaustivamente questões que se relacionavam com a fotografia, o cinema, o vídeo e o som. Questionando assim estes diferentes mas complementares suportes, transformando-os através do uso de outros meios artísticos e preservando o seu modo arcaico de funcionamento através das características próprias de cada um deles. Abrindo desta forma um salto para lá da objectividade que caracteriza a fotografia, onde através de um corpo maior de trabalho daqui derivado explorava o modo como olhamos e reenquadramos mentalmente uma imagem fixa. A fotografia estabelece uma fixação num tempo específico que não se apaga fisicamente em direcção a outro momento. Este apagar apenas ocorre ou pode decorrer no nosso sistema perceptivo. Característica humana contrária à reprodutibilidade sonoramente mecanizada da fotografia. Começou para mim aqui uma grande questão entre o som e a imagem.

Vídeo, Conceito e Fotografia: João Bento Música: David Leitão 2000, 2’47’’

MANÉ // Período Azul A revisitação de obras icónicas de ‘grandes mestres da arte’ (do séc. XX ao presente) por ordem não necessariamente cronológica é centrada na cor azul, ponto de partida para a narrativa que se desenrola (literalmente) sobre um rolo de papel. Este é, sucessivamente, rodado/desenhado/rodado, num movimento mise en abîme que reproduz materialmente o loop imaterial da imagem. A construção de imagens icónicas (e irónicas) faz-se, inicialmente, a partir das ferramentas tradicionais do desenho/pintura, media que vai sendo substituído por objectos domésticos/íntimos, culminando numa sugestiva masturbação. O loop reformula o significado das acções e dos objectos convocados. O efeito de espelho entre o loop e o seu reflexo sublinha a repetição (sistemática) de uma tendência (sistémica) nos momentos significativos de transição na arte ocidental, assinalando a constante nas convenções substituídas e substituintes. A página volta sempre a ficar em branco: pronta a ser reescrita.

Realização e Produção: Mané Imagem e Edição: Mané e Bernardo Fachada Agradecimentos: Ana Cristina Cachola, Marta Espiridião, Tiago Pereira e João Rosas 2018, 11’45’’

LETÍCIA LARÍN // O Guarani (Direita ou Esquerda) Acompanhando o som da música “O Guarani” de Carlos Gomes, as mãos direita e esquerda revezam-se para desenhar com caneta esferográfica vermelha, círculos no meio da bandeira do Brasil. Ao invés de concluir um desfecho, o movimento reitera-se numa continuidade de idas e vindas: a música e a acção invertem-se, regressando ao ponto de partida.

Vídeo-performance de Letícia Larín 2018, 19’07’’

25 Quinta 18:00 – Casa das Artes Bissaya Barreto, Coimbra Lançamento do livro “Dissecação de um Cisne” de Mi̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville

“Dissecação de Um Cisne” é uma edição de autor, resultado de uma residência artística de três meses realizada na La Box – École Nationale Supérieure d’Arts de Bourges, em França (2018), tendo sido a primeira fase de pesquisa para a criação do espectáculo “A Importância de Ser Georges Bataille”. Esta edição reúne desenhos, fotografias intervencionadas, registo de performances e textos originais, criados por Bonneville. Para a criação de “A Importância de Ser Georges Bataille”, a equipa artística esteve em residência em Montemor-o-Velho, em Fevereiro. A peça estreou no Teatro São Luiz, em Lisboa, a 14 de Maio de 2019. O lançamento do livro conta com a presença de M̶ı̶g̶u̶e̶l’ Bonneville e do filósofo Pedro Arrifano.

Apresentação: M̶i̶g̶u̶e̶l{32b4486515d0a5abfadefb82dc72bb6fc0b678301881c70cec7f997124f6ddb6} Bonneville e Pedro Arrifano Edição, textos, revisão, desenhos, recolha de imagens e fotografias: M̶i̶g̶u̶e̶l{32b4486515d0a5abfadefb82dc72bb6fc0b678301881c70cec7f997124f6ddb6} Bonneville Tradução: Joana Cabral Design gráfico: ilhas studio Impressão: Gráfica Maiadouro Tiragem: 200 exemplares (numerados)

Acesso livre

JOÃO FIADEIRO // From afar it was an island. De perto, uma pedra 25 Quinta 21:30 // Teatro da Cerca de São Bernardo, Coimbra

“De perto, uma pedra” completa a frase que poderia ter sido escrita por Bruno Munari na sequência de “From afar it was an island”, título de um livro para crianças que “pedi emprestado” para nomear o espectáculo que estreou no Festival DDD no Porto de 2018 (a partir de uma encomenda do Alkantara Festival). “De perto, uma pedra” é uma nova abordagem de “From afar it was an island” que propõe exactamente aquilo que o título sugere: proporcionar ao espectador/visitante que olhe de perto (e por dentro) de um trabalho que foi originalmente desenhado para ser olhado de longe (e por fora). Este movimento de re-visitação para ambientes in situ de obras originalmente desenhadas para palco, é uma prática cada vez mais recorrente no meu percurso. Retomar e remontar a mesma matéria, mas em modo unplugged, lo-fi , libertando-a da tirania da narrativa que o aparato teatral obriga, é cada vez mais recorrente na relação com os objectos e artefactos que João Fiadeiro produz. Como se, para suspender a expectativa do espectador (e activar uma percepção da ordem do sensorial e do sensível), fosse necessário retirá-lo do “lugar marcado” (fixo, imóvel, inerte) que este ocupa na plateia. “From afar it was an island” e “De perto, uma pedra” são coreografados com gestos armazenados pelo cinema, todo “escrito” com essas “palavras”, e com a tensão que é mantida no interior desses fragmentos. Um conjunto de mais de uma centena de filmes dos quais foram extraídas pessoas que se vestem, caminham, param, esperam, conversam… O raccord, próprio da linguagem cinematográfica, será o princípio capaz de articular relações entre esses gestos: alguém enche um copo de água na mesa da sua cozinha CORTA PARA outro alguém que derruba um copo de vodka no balcão de um bar. Na mesa de edição o raccord que uniria esses dois gestos não esconderia o salto espacial e temporal que separa as duas cenas, que podem, inclusive, ser de dois filmes diferentes. No teatro, no entanto, temos a unidade espacial e temporal do palco, e temos o corpo que se apropria e une as duas cenas, sem que possamos notar o instante exacto em que uma cena acaba e outra começa. Os gestos acumulam-se, o futuro não é previsível e o passado não é escrito. Os gestos são contidos no presente da sua própria presença, e no entanto continuam. Em “From afar it was an island” o gesto fixado pelo cinema é possuído pelo fantasma do gesto da dança: o esquecimento.” João Fiadeiro e Leonardo Mouramateus

Conceito: João Fiadeiro Co-direcção: João Fiadeiro, Leonardo Mouramateus e Carolina Campos Performance e co-criação: Carolina Campos, Adaline Anobile, Márcia Lança ou Nuno Lucas, Iván Haidar e Julián Pacomio Captação sonora em tempo real: João Bento Luz: Leticia Skrycky Espaço: João Fiadeiro e equipa a partir do espaço cénico de “From afar it was an island” de Nadia Lauro (cenografia), Gabriela Forman (figurinos) e Bruno Bogarim (objectos) Produção: Sinara Suzin Difusão: Somethinggreat Co-produção: (De perto, uma pedra) Temps d’Image / Duplacena; Atelier REAL Co-produção: (From afar it was an island) Alkantara; Festival DDD; Teatro Viriato; Teatro Avenida; Centre National de la Danse Apoio: Câmara Municipal de Lisboa/ Polo Cultural Gaivotas | Boavista “From afar it was an island” foi financiado pela DGArtes–Direção-Geral das Artes.

MI̶G̶U̶E̶L̶ BONNEVILLE // Dj Set BlackBambi 25 Quinta 23:00 – Salão Brazil, Coimbra

BlackBambi (Mi̶g̶u̶e̶l& Bonneville) tem tido papéis principais em vários projectos musicais ao longo dos anos (Hex, Ur Ma, BlackSugu e GoldenBambi), para além do projecto a solo que liga a música electrónica e as performativas. Compositor, vocalista e produtor de música low-fi, hipnótica e dissonante, impossível de se separar de um singular carácter visual, BlackBambi é também MC e DJ, tendo colaborado em diversos projectos ligados ao cinema, à performance e às artes visuais.

Acesso livre

IVÁN HAIDAR // Outra Línea – Todo Tiempo Presente Construye Un Pasado 26 Sexta 21:30 // Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra

Iván Haidar duplica-se. O seu eu real mistura-se com a sua versão virtual de tal forma que ambos acabam por confundir-se de que mundo é que provêem. Este diálogo com ele mesmo é uma busca constante de alternativas para estar em relação com tudo o que o rodeia quando está só. Este projecto teve início em 2016 a partir de uma residência artística no Atelier Re.Al, em Lisboa, com Carolina Campos e João Fiadeiro.

Direcção, composição e interpretação: Iván Haidar Assistência e tutoria: Carolina Campos e João Fiadeiro Apoios financeiros: Instituto Prodanza e Programa Iberescena Agradecimentos: Cristian Vega, Adaline Anobile, Juan Onofri, Tamara Cubas, René Mantiñán, Constanza Copello, Atelier Re.Al., Festival Nido e Vil Teatro. Esta obra foi realizada mediante um subsídio do Instituto Prodanza – Ministerio de Cultura Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires e o programa de Residencias de Iberescena.

M/16; 55 ’ _5€ / 7,5€ / 10€ [serviços de bilheteira do TAGV e Bol] O espectador define o preço do bilhete escolhendo uma das três opções.

PAULA DIOGO // Terra Nullius 27 Sábado 22:30 // Teatro Esther de Carvalho, Montemor-o-Velho
Terra Nullius foi um termo criado pela lei internacional para definir territórios que não pertenciam a ninguém e por isso podiam ser ocupados e declarados como território “novo”. Etimologicamente significa terra de ninguém, terra sem dono, terra que não pode ser reclamada, ponto zero. Ainda hoje existem territórios Terra Nullius como: Bir Tawill (uma faixa de terra entre o Egipto e o Sudão), a Antártida, o mar internacional, e a Lua e os corpos celestes. No livro Terra Nullius: A Journey Through No One’s Land, o escritor Sven Linquivist explica como este termo foi usado para justificar aquilo que só recentemente começou a ser chamado de genocídio. Terra Nullius encerra também um significado poético. Uma ideia de território inexplorado e não reclamado, uma espécie de oásis de liberdade onde seria possível recomeçar e repensar a nossa ideia de sociedade. Interessa-nos com este projecto atravessar linhas de pensamento que proponham uma visão crítica da nossa sociedade contemporânea, reflectindo sobre a sua génese e a sua falência permanente. Relocalizar questões de autonomia e demarcação de uma identidade cultural ou pessoal. Se nos fosse permitido voltar ao ponto zero conseguiríamos fazer tudo diferente? Ou tudo irremediavelmente igual? O espectáculo TERRA NULLIUS é simultaneamente uma viagem interior e exterior, uma reflexão sobre o que nos prende aos lugares. Este trabalho começou a ser desenvolvido no biénio 2018-2019 durante a frequência do MFA em Performing Arts da Iceland Academy of Arts (LHÍ). Paula Diogo

Um projecto de Paula Diogo em colaboração com Alex Cassal, Agapi Dimitriadou, Daniel Worm, Estelle Franco, Renato Linhares, Sérgio Henriques, entre outros.

Agosto SÓNIA BAPTISTA // Triste in english from spanhis (redux) 1 Quinta e 2 Sexta 22:30 // Garagem Auto Peninsular, Figueira da Foz

Comecei a criar este trabalho a partir da minha tristeza, particular, tentando tocar, a partir dela, na tristeza do mundo, em geral – toca e foge, toquei eu – mas dei a volta ao mundo para voltar até à minha tristeza particular, no final. “Quanto mais se foge de uma coisa, mais perto ela permanece”. Eu não sou só triste, também me troco toda e troco-me as voltas. Why sad? Why not? Como não ser coisa viva e não ficar triste com o estado do mundo? Como não ficar ainda mais triste quando já se é triste, por natureza, efeito, defeito, ou genética? Apercebi-me que o discurso deste trabalho, tanto naquilo que escrevi para dizer, está enraizado num conceito, ou movimento artístico (será?), a que chamei: Psico-Poética do Browser (Zizek, eat your heart out). Apercebi-me que, no decorrer desta nossa longa investigação, ia juntando fragmentos, frases, ideias, buscas, que apontavam uma reflexão sobre o estado do mundo ( o mundo tem de acabar!) e sobre o estado das pessoas (em particular as mulheres) em relação ao mundo e em relação à Terra, planeta cada vez menos natural. As minhas raízes são ecofeministas, eco-queer, holístico-filosóficas, estranhas, entranhas. Essas raízes desenterraram outras preciosidades, muito sérias, pouco sérias, absurdas, vulneráveis, numa espécie de anatomia da tristeza, como espaço gerador, como espaço de partilha, como espaço que gera a dor e a esperança. Esperança em quê? Não sei bem, não tenho respostas, mas, se comigo insistissem, eu diria: No amor. Olhar a tristeza e a morte nos olhos não é fácil mas é necessário. Para melhor viver, senão tranquilamente, pelo menos de uma maneira interessante. “ Queres ser uma pessoa feliz ou interessante?” Entre o choque e o assombro diários. SÓNIA BAPTISTA

Concepção, Direcção Artística, Escrita e Interpretação Sónia Baptista Co-criação e interpretação Márcia Lança, Carolina Campos, Joana Levi, Cleo Tavares, Paula Sá Nogueira, Ana Libório Espaço Cénico: Raquel Melgue, Frame Música: Raw Forest, Bleid, Sonja Filme Super 8: Aya Koretzky Vídeo: Héloise Màrechal Desenho de Luz: Daniel Worm Figurino: Lara Torres Retratos: Ana Vidigal, Anne-Sophie Tschiegg Consultora Boxing Project: Stephanie Spindler Consultoras Científicas: Liliana Coutinho, Maria Sequeira Mendes Design e manufactura de Livro: Raquel Melgue, Lara Boticário Escritoras: Marília Garcia, Carla Diacov, Júlia de Carvalho Hansen, Angélica Freitas, Nina Rizzi, Adelaide Ivanova, Erika Zingaro, Ingrid Carrafa, Virna Teixeira, Francine Jallegas, Rita Isadora Pessoa, Júlia Rocha Assistência técnica: Isidro Paiva Assistência dramaturgia: Patricia Azevedo Silva Direcção de Produção e Gestão Financeira: Joana Dilão Direcção de Comunicação: Cláudia Duarte Produção: AADK Co-produção: Culturgest Projecto Financiado pela DGArtes Apoios: Cão Solteiro, Alkantara, O Espaço do Tempo, TAGV, Gaivotas6, A Oficina, Arte Ilimitada, Kubikgallery, Universidade de Évora, O Armário, SAPLab

3 Sábado 21:30 – Teatro da Cerca de São Bernardo, Coimbra John Romão e Sílvia Costa, “As Tentações de Santo Antão”

Que voz é essa voz que me chama, me atormenta e me empurra para onde eu sei que não deveria ir? Quem me agarra a mão e me faz agir mesmo que eu não queira? Este trabalho de pesquisa e de questionamento mergulha no discurso visionário de Gustave Flaubert e no poder da imaginação que emana da sua obra “La Tentation de Saint Antoine” [“As tentações de Santo Antão”]. Guiados pela personagem de Santo Antão e pelas formas que este atribui às suas tentações, tentaremos dar imagem, corpo e voz ao lado obscuro e fraccionado que vive em nós. Entrar na noite negra que está em nós, iluminá-la, enfrentar o risco de abrir uma porta que poderia ser perigosa. O interesse desta figura, muito estudada na história da arte, relaciona-se com uma procura do sentimento de culpa, de consciência pessoal, de ética de cada um, cuja manifestação no nosso tempo parece precisar de uma renovação, de um novo posicionamento. Ou talvez de um retorno à origem do que é o humano. A realidade divide, e é nesse corte que é preciso olhar. Como Santo Antão, várias outras figuras históricas, tais como Marco Aurélio, Santo Agostinho ou Plotino, tiveram uma visão controversa do mundo e da sua realidade, voltando-se para a vida enigmática do espírito, o movimento autónomo das emoções. Frente a um mundo que conhece uma perda de sentido, uma incapacidade de ser entendido (para quem quer entendê-lo), encontramos a riqueza de um mundo verdadeiro numa paisagem da intimidade.

Criação: John Romão e Sílvia Costa Interpretação: participantes no workshop

Rodrigo Garcia // PS/WAM Piano Sonatas Wolfgang Amadeus Mozart 8 Quinta, 9 Sexta e 10 Sábado 22:30 // Teatro Esther de Carvalho, Montemor-o-Velho

E no princípio foi Mozart. Este projecto não começou como manifesto político, nem como uma história para gritar e muito menos é fruto da necessidade de denunciar injustiças. Porque tudo é mentira. Tudo é mentira. Não há compromisso possível no arrogante e barulhento século XXI, em que o pensamento individual foi apagado do mapa e está até mal visto, dando lugar a ideais alheados da realidade, convertidos, ainda que pareça mentira, em modas que provocam admiração. Esses ideais não me pertencem, são barbaridades provenientes das redes, ou seja, provenientes do nada e os que os defendem fazem-no para não ficarem vazios.

Tudo é mentira. Vi convictos partidários de esquerda entregar o seu voto ao candidato da elite de centro-direita e de imediato recusar comprar algo embalado em plástico e encomendar através de uma página web as compras orgânicas para toda a semana. Tudo é mentira.

Nem tudo. É certo que a frustração de uma classe social cada vez mais baixa – que se julga classe média graças à Primark, Mercadona e Burger King – dá origem a este puritanismo arrepiante e a toneladas de candidez. Não são mais que um tropel urbano desligado da realidade da terra e do mar. Nada sabem – salvo por contados días de férias – das pequenas aldeias junto ao oceano ou talhadas na montanha, aldeias sempre sujas, em gritaria, chorosas pelos nascimentos e mortes de animais, aldeias de montes incendiados e cepas e oliveiras teimosas.

Arma-se em defensor da natureza precisamente o personagem da cidade que nunca viu uma vaca. Perante tanta estupidez, como não propôr as sonatas para piano de Mozart. Notas musicais. Contra as mentiras. Só as notas musicais. Nem sequer a biografia de Mozart. Só as próprias sonatas.

Com Juan Loriente e Daniel Romero Espaço cénico e direcção: Rodrigo García Assistente de direcção: Sarah Reis Vídeo: Rodrigo García e Daniel Romero Iluminação: Jesús Santos Figurinos e maquilhagem: Deva Gayol Música: Sonatas para piano de Mozart interpretadas por Glenn Gould Música adicional: Daniel Romero e Brian Eno Textos: Rodrigo García e extractos seleccionados da correspondência de Mozart com o seu pai Direcção de arte: Arturo Iturbe Direcção técnica: Roberto Cafaggini Produção executiva: Sarah Reis Produção: La Carnicería Teatro Co-produção: Citemor – Festival de Montemor-o-Velho (Portugal), Naves del Matadero Madrid – Centro Internacional de Artes Vivas (Espanha), Rodrigo García e Boucherie Théâtre (França) Colaboração: OSPA – Orquesta Sinfónica del Principado de Asturias e l’Académie de France à Rome – Villa Médicis. Rodrigo García e Boucherie Théâtre conta com o apoio do Ministério da Cultura e da Comunicação de França – DRAC

SUSANA PAIVA // Anatomia de uma Imagem 9 Sexta e 10 Sábado 20:00/21:00 17 Sábado 20:00/21:00 – Rua Combatentes da Grande Guerra 22

“Anatomia de uma imagem” é uma instalação habitada, seguida de um poema imagem, onde se equacionam as possibilidades da fotografia e das artes do espectáculo incidindo, sobretudo, no universo comum de ambos os campos de expressão. O projecto “Anatomia de uma imagem” permite que o espectador tenha acesso à proposta em qualquer ponto da mesma, entrando e saindo em qualquer momento, sendo que o número máximo de público simultâneo é limitado a 5 pessoas.

Concepção, produção e interpretação: Susana Paiva Interpretação e assistência de produção: Paula Arinto Pesquisa e apoio à criação: Francisco Varela e Paula Arinto Fotografia de cena: Fernando Alves Vídeo: Francisco Varela

“Anatomia de uma imagem” encerra uma dimensão coral e colaborativa para a qual contribuíram, com trabalho desenvolvido nos Seminários de Arraiolos e Lisboa, os criadores Ana Moreira da Silva, Arlindo Pinto, Céu Baptista, Elsa Figueiredo, Florbela Vitorino, Isabel Solano, José Artur Macedo, José Miguel Soares, Kátia Sá, Paula Arinto e Sofia Morais. Agradecimentos a todos os que aceitaram contribuir para este objecto artístico, em especial aos participantes nos seminários de Arraiolos e Lisboa, bem como ao Pedro Machado e ao Sérgio Martins Oliveira que generosamente permitiram que os seus textos integrassem esta proposta.

Um agradecimento final a “A Escola da Noite” – a minha primeira casa enquanto profissional desta área – por proporcionar um apoio fundamental à conclusão deste projecto.

TEATRO DO VESTIDO // Mãos gretadas (ainda às voltas com o sal) 15 Quinta e 16 Sexta 22:30 – Núcleo Museológico do Sal, Figueira da Foz

Depois de ter apresentado em 2018 no CITEMOR a sua leitura dos diários de campo e outros materiais que decorreram da observação do trabalho nas salinas da Figueira da Foz (chamou-se Pontes de Sal), o TdV regressa agora para mais uma etapa deste projecto. Em 2018 escrevíamos: qualquer coisa como teatro-poema enquanto forma de escavar, desenterrar o que se quer enterrado e apagado, nessa voracidade de se pensar o futuro sempre para hoje, e tanta coisa nova para agarrar, comprar, descobrir. Ou: este plano tão bem montado do esquecimento. A bem de um presente sem memória. E em 2019 escrevemos, Teatro-poema-conferência. Escavar, ainda. Desenterrar, ainda. As salinas como espelho, as mãos gretadas do trabalho, o sal das palavras, as feridas abertas e o sal por cima, o sal-moeda-detroca, a vida a vida a vida. O sal como perseverança ou, como alguém disse, como amor. Ou de como o amor e o sal combinam tão bem nestas paisagens de salicórnias e outra vegetação.

Texto e direcção: Joana Craveiro Co-criação e interpretação: Carlos Marques, Joana Craveiro e Tânia Guerreiro Música (composição e interpretação): Carlos Marques Desenho de luz: Carlos Ramos Figurinos: Tânia Guerreiro Produção executiva: Alaíde Costa Co-produção: Teatro do Vestido e CITEMOR

ROCÍO MOLINA // Impulso 17 Sexta 22:30 // Sala B, Montemor-o-Velho

Rocío Molina regressará este ano a Montemor-o-Velho para fechar o programa do festival, que decorrerá entre 25 de Julho e 17 de Agosto, entre a vila histórica do Baixo-Mondego e as cidades de Coimbra e Figueira da Foz. Em residência de criação, desenvolverá um site specific para a sua série designada “Impulsos”, um conjunto de performances em que a artista se lança na conquista de espaços e situações improváveis: um parque, uma praça, a margem de um rio, um museu, espaços públicos ou privados, improvisando e descobrindo novos caminhos, lançando as sementes de uma próxima criação.

Criação e interpretação: Rocío Molina

 

Programa

Julho 25 Quinta 18:00 – Casa das Artes Bissaya Barreto, Coimbra Lançamento do Livro “Dissecação de um Cisne” de Mi̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville Loops.Lisboa – ABERTURA
25 Quinta 21:30 – Teatro da Cerca de São Bernardo, Coimbra João Fiadeiro, “From afar it was an island. De perto, uma pedra”
25 Quinta 23:00 – Salão Brazil, Coimbra Mi̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville, Dj Set BlackBambi
26 Sexta / 3 Agosto (15:00/19:00) – Casa das Artes Bissaya Barreto, Coimbra Loops.Lisboa
26 Sexta 21:30 – Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra Iván Haidar, “Outra Línea”
27 Sábado 22:30 – Teatro Esther de Carvalho, Montemor-o-Velho Paula Diogo, “Terra Nullius”
Agosto 1 Quinta e 2 Sexta 22:30 – Teatro Esther de Carvalho, Montemor-o-Velho Sónia Baptista, “Triste in english from spanish (redux)”
3 Sábado 21:30 – Teatro da Cerca de São Bernardo, Coimbra John Romão e Sílvia Costa, “As Tentações de Santo Antão”
8 Quinta, 9 Sexta e 10 Sábado 22:30 – Teatro Esther de Carvalho, Montemor-o-Velho Rodrigo Garcia, “PS/WAM Piano Sonatas Wolfgang Amadeus Mozart”
9 Sexta e 10 Sábado 20:00/21:00 – Rua Combatentes da Grande Guerra 22 Susana Paiva, “Anatomia de uma imagem”
15 Quinta e 16 Sexta 22:30 – Núcleo Museológico do Sal, Figueira da Foz Teatro do Vestido, “Mãos Gretadas (ainda às voltas com o sal)”
17 Sábado 20:00/21:00 – Rua Combatentes da Grande Guerra 22 Susana Paiva, “Anatomia de uma imagem”
17 Sábado 22:30 – Sala B, Montemor-o-Velho Rocío Molina, “Impulso”