DIGA33, Edição de teatro a 2 de Junho Filho da Puta, de Alberto Pimenta a 24 de Junho

É no próximo dia 2 de Junho que começamos a desconfinar. Já se percebeu que o processo de o fazer não é o de fazer uma vez só, como num mergulho. Pelo contrário, será tacteante, a medir resistências, medos e receios próprios e fazendo como os navegadores na cabotagem, tomando o pulso aos perigos a par e passo, na rota colada à linha litoral que se vai divisando melhor ou pior, consoante nevoeiros, confusões e horas da luz — a real e a mental.
Este parece ser o caminho mais capaz de realizar a mudança, isto é, de abrir de novo o espaço comunitário à comunidade, agora com a consciência aguda de que a dimensão pública das nossas acções, manifestação e essência das liberdades práticas da liberdade política geral são, em si, actos de libertação. Não para instaurar “um novo normal”, feito só de regras, mas para construir um novo real, inventado no combate exactamente à autocensura, ao medo, à indecisão paralisante e aos abusos de poder que o entendimento de regras como leis de encarceramento constante, possibilitam — por detrás do cumprimento de regras espreita sempre a possibilidade de que cresça o
Estado da imposição arbitrária de regras, no fundo, quando justificadas apenas por si mesmas, kafkianas — sempre lá estiveram —, que, como sabemos, são as mais elaboradas, burocráticas e labirínticas.
As formas do pânico e a hipocondria são aliados da lógica do rebanho cumpridor nas mecânicas das suas rotinas diárias, assim como o desrespeito grosseiro de regras racionais que nos têm feito cumprir consensualmente, por parte dos psicopatas no poder no Brasil e Estados Unidos, modos de acrescentar à crise mortandade exponenciada e
desrespeito pela vida de cada um, no desrespeito arrogantemente exibido pelos que estão mais vulneráveis à pandemia. Chama-se a isto crimes.
Vamos desconfinar com regras, racionais e cumprir as distâncias que nos protegem segundo os entendidos, além de usar as aconselhadas máscaras e viseiras, o gel, etc.

A nossa sala-estúdio reabrirá para um sessão excepcional do Diga33 programado pelo poeta e ensaísta, activista divulgador da poesia em língua portuguesa, Henrique Manuel Bento Fialho. Ao Diga 33 já vieram dezenas de poetas e pensadores da literatura nestes a cominho de 3 anos de existência. Desta vez a sessão será dedicada à colecção de peças de teatro do Teatro da Rainha — que vai no seu quinto livro e na sua décima peça — postos agora na cena do livro.
Os autores são Beckett, Eu não, Cadeira de embalar e A última bobina, Pirandello, O  homem, a besta e a virtude e Barrete de guizos, Martin Crimp, Definitivamente as Bahamas e Play House, Sarrazac, Neo, três painéis de apocalipse e A paixão do jardineiro, traduzidos pela actriz e dramaturgista Isabel Lopes e a sair por estes dias, de
George Tabori, Weisman e cara vermelha, traduzida pelo actor, formado em germânicas, Carlos Borges.
A edição destas peças em corealização com a Companhia das Ilhas, do editor e poeta Carlos Alberto Machado, sedeada na Ilha do Pico, sinaliza o percurso que o TR tem vindo a concretizar e peças outras que gostará(ia) de concretizar se um dia encontrar escala para o fazer, assim como revela e regista para a memória vivificável a sua prática de reportório, sendo parte da Colecção Azulcobalto/Teatro/Mundo, da CI.
Como é prática do Diga33 a sessão será animada e conduzida por Henrique Fialho e participarão nela além de Isabel Lopes, Fernando Mora Ramos e Carlos Borges.

Avisam-se os nossos espectadores assíduos que é obrigatória a reserva prévia dos lugares e que a lotação será de um terço da sala — cerca de 20 lugares — sendo que a implantação das cadeiras (somos especialistas de mises en place) respeita os 2 metros da praxe, assim comos os canais de circular serão estabelecidos racionalmente, contando com a colaboração activa dos espectadores neste “jogo” das distâncias e direcções da respiração mascarada — o jogo do desconfinamento.
Aproveitando a boleia desta informação, o Teatro da Rainha informa que iniciou os ensaios de O discurso do filho da Puta, de Alberto Pimenta, para estreia em 24 de Junho, numa realização coral conjunta de Miguel Azguime e Fernando Mora Ramos, realização cénico-musical, com a participação dos coristas performers Cibele Maçãs,
Marta Taveira, Nuno Machado e Fábio Costa, neste caso desenvolvendo a lógica implícita a um quarteto instrumental de vozes e timbres.