FERNANDO PEREIRA – 20 ANOS DE CARREIRA
O apreciado «entertainer» Fernando Pereira, a comemorar agora os 20 anos de carreira e que foi um dos primeiros artistas a ser contactado para participar na 2ª Edição da «Quinta das Celebridades», na TVI, acabou por não aceitar o convite da Endemol, invocando compromissos profissionais inadiáveis tanto em Portugal como no estrangeiro, e não qualquer receio de excessiva exposição pública ou de dureza no trabalho agrícola que o esperava na Herdade da Baracha, em Rio Frio.
INSIDE – Considera mesmo que os trabalhos agrícolas não lhe iriam pesar?
FERNANDO PEREIRA – De maneira nenhuma, pois desde a minha infância e adolescência que me habituei a passar longos períodos de férias na vila histórica de Mértola, de onde os meus pais são naturais, em pleno coração do Alentejo, no distrito de Beja. E lá era muito intensa e estreita a ligação com a natureza, ou seja com os animais e com as plantas e com as variações do clima, pelo que seria relativamente fácil a minha integração nos trabalhos agrícolas da famosa quinta ribatejana.
INSIDE – Mas o Fernando nasceu em Lisboa?
FERNANDO PEREIRA – Sim, mas embora nascido em Lisboa e convivendo com os meus companheiros de folguedos e de escola no Bairro de Campo de Ourique, onde habitava, quando chegavam as férias, como disse, era para Mértola que eu partia. Daí que as minhas memórias de infância e adolescência passem pelas margens do Guadiana, pela foz do rio, pelo castelo, pela mesquita, pelas Festas de S. João, pela Feira de Setembro. No fundo, Mértola era o prolongamento da minha casa. E dentro da minha casa, mesmo em Lisboa, era o Alentejo que estava sempre presente, nas conversas, na culinária, nas tradições. Era assim alentejano da porta para dentro e lisboeta quando saía para as ruas de Campo de Ourique, ou de Algés, para onde mais tarde fomos morar. Por outro lado, o meu pai, muito ligado à cultura regional e ao teatro, e a minha mãe, que tinha uma voz lindissima, despertaram em mim, desde muito cedo, o gosto pela leitura, pelo folclore e pela música clássica.
INSIDE – E foi essa cultura multifacetada (o Fernando interpreta desde a «Pedra Filosofal», de Manuel Freire e António Gedeão, a Stranvinski e Louis Amstrong) que o levou a enveredar por uma carreira internacional?
FERNANDO PEREIRA – Penso que o facto de me sentir um cidadão do Mundo teve muito peso nessa opção. Mas a firme convicção que possuo de que é possível levar a toda a parte a existência, e excelência, da nossa música também se tornou decisiva na atitude que tomei ao partir há cerca de 10 anos para os EUA, onde estive radicado, e que já me levaram posteriormente a actuar em países tão distintos como a África do Sul, Austrália. Bermudas ou Eslovénia.
INSIDE – Imitador, mímico, cantor, declamador, como se definiria a si próprio como artista?
FERNANDO PEREIRA – Em Portugal, convencionou-se chamar imitador a tudo, mas esta designação algo simplista e redutora nem sempre é uma réplica fácil, muito pelo contrário. Nestes casos, a imitação é a caricatura elaborada de uma personagem e o «sketche» humorístico de uma forma específica de expressão artística. Por exemplo, nos EUA, chamam-me «impersonator», cuja tradução será «personificador», no sentido da representação cénica, sendo considerada, imodéstia à parte, uma forma de espectáculo rara e superior. Mas se me chamarem simplesmente «entertainer» já me sinto razoavelmente confortado, embora eu seja um bocadinho disso tudo, actor, imitador, tenor…
INSIDE – Quando se refere a tenor está a falar da sua nova experiência ao lado da Isabel Maya?
FERNANDO PEREIRA – Acontece que, de facto, iniciei recentemente uma nova faceta que, de certo modo, tinha adormecida dentro de mim. Ou seja, decidi despertar o tenor que há em mim, ao lado da cantora lírica Isabel Maya. Não é uma nova carreira, mas é uma nova faceta, uma faceta assumidamente de cantor. É um projecto que desenvolvi com a Isabel, um desafio aliciante, que está ter resultados absolutamente notáveis, com a realização de espectáculos só com este tipo de repertório, em dueto. Se comparar a minha actividade como tenor com a de Carreras ou de Pavarotti, é claro que não consigo atingir as mesmas perfomances. Poderei cantar nos mesmos tons, nos mesmos registos, mas não se pode comparar a sua formação clássica com a que eu não tive e que só foi posterior ao início da minha carreira, Porém, como faço de tudo, não há nada que seja completamente novo para mim. Costumo afirmar: dêem-me um palco e tudo pode acontecer!
INSIDE – Entre os compromissos inadiáveis que invocou à Endemol para não estar presente no programa de «rurality show» da TVI poder-nos-à destacar alguns deles?
FERNANDO PEREIRA – São vários concertos para grandes empresas, tanto em Portugal como no Brasil, EUA, Espanha e Eslovénia, mas o mais importante é o que tenho agendado para Abril, não só como artista mas também como produtor do evento, e que se prende com um espectáculo a apresentar em Varsóvia, organizado pelo Centro de Negócios Portugal/Polónia.
INSIDE – Comemorou há pouco os 20 anos de carreira com um grande espectáculo transmitido pela RTP. Não pensa que esse foi um momento excepcional e que são raras as oportunidades dadas aos artistas portugueses para aparecerem com esse relevo nas nossas televisões?
FERNANDO PEREIRA – Confesso, sem receio de me repetir, que tenho pena que programas como o que fiz na RTP para celebrar os 20 anos de carreira, e mesmo esse transmitido já quase madrugada, não possam acontecer mais vezes, comigo e com outros artistas nacionais, Penso de facto que as televisões, numa lógica contraproducente e insensata, têm estado sistematicamente divorciadas da música, do teatro e do espectáculo no horário nobre. Actualmente, se as pessoas quiserem «encontrar-se» com alguns dos seus artistas portugueses de eleição têm que faltar ao emprego para verem os programas durante o dia. E isto porque as televisões entraram numa lógica de mercado puramente monetarista. Se as pessoas gostam e têm propensão para novelas, «reality-shows» e futebol, dão-lhes doses massivas de novelas, «reality-shows» e futebol. Pode ser muito interessante para os accionistas, mas não sei se estamos a fazer bem ao País ou a prestar um serviço inteligente de televisão. É dinheiro que se ganha hoje, mas são muitos valores que se perdem a médio e longo prazo.
Foto: www.fernandopereira.pt
Autor: Manuel Geraldo