HELDER COSTA – A BARRACA
«O MISTÉRIO DA CAMIONETA FANTASMA»
INSIDE – Qual o tema central do «Mistério da Camioneta Fantasma»?
HELDER COSTA – Trata-se de uma abordagem ao assassinato, em 19 de Outubro de 1921, de três dos principais vultos da implantação da República – António Granjo, Carlos da Maia e Machado Santos – crimes abomináveis até agora nunca esclarecidos porque o Golpe de 28 de Maio de 1926, que haveria de conduzir Salazar ao poder alguns anos depois, os conseguiu cobrir com um obscuro manto de silêncio. É minha esperança que a exibição desta peça possa constituir uma boa oportunidade para levar este assunto às escolas e à sociedade portuguesa em geral, de forma a discutir-se sobre a República e saber-se qual era a verdadeira ética republicana.
INSIDE – Como apareceu o teatro na sua vida? E o projecto de «A Barraca»?
HELDER COSTA – Fui fascinado pelo teatro quando, nos anos 60, era estudante na Universidade de Coimbra, através do meu contacto com o CITAC. E essa paixão continuou depois em Lisboa no Cénico de Direito e mais tarde em Paris com o grupo que fundei, o «Teatro Operário», formado por emigrantes.
Quanto ao Grupo «A Barraca» surgiu como uma espécie de arma em constante dinâmica, destinada a preparar o público português, amputado por sucessivas censuras, para a verdade histórica e para a luta por um destino mais feliz, progressista e solidário. E foi para dar corpo a esse projecto que se prepararam os trabalhos apresentados por exemplo sobre Gil Vicente, Camões, Zé do Telhado ou D. João VI e se encenaram obras de autores tão referenciais como Dario Fo, Brecht, Fassbinder, Mrozeck ou Woody Allen.
INSIDE – O dramaturgo Helder Costa teria sido possível sem que primeiro tivesse havido o encenador Helder Costa? Ou o processo deu-se na inversa?
HELDER COSTA – Primeiro surgiu o encenador e o dramaturgo só apareceu depois porque não havia, ou eu não encontrei, textos sobre temas que me interessavam abordar, passando então a ser eu próprio a criá-los.
Autor: Manuel Geraldo