JOÃO PEDRO PAIS – A PALMA E A MÃO

Depois de sucessos longínquos como “Mentira” e de uma mais recente experiência em dueto com Mafalda Veiga revisitando-se, João apresenta-se de novo a solo mas com colaborações de peso: Zé Pedro, Pedro Abrunhosa e Jorge Palma.

O álbum está dentro do registo suave de pop-rock a que já nos fomos habituando, com uma sensação de maturidade acrescida. Arranjos cuidados e trabalhados emprestam um colorido moderno sem cair na vulgaridade ou no popularucho. Numa onda ligeira sem se confundir com o misticismo de um Represas ou a erudição intervencionista de um Palma, Pais refugia-se no canto dos baladeiros de amor e dos sonhos.

Assim é claramente em “A palma e a mão”, escrita por Abrunhosa, contra um piano obstinado num ostinato quadrado e um “Volto já”, carregado por um som de órgão nostálgico e uma guitarra bem medida.

E o álbum assim continua entrecortando as baladas um pouco mais acirradas como “É a nossa vez” ou “Sempre hoje” e os devaneios quase segredados como “Vens ou Ficas?” ou “Sem perguntar” que quase dispensavam sequer uma letra.

Chegamos a um momento de cumplicidade em “Meu caro Jorge”. Onde o João canta uma carta escrita a Palma. Palma, esse, aproveita a onda e empresta o piano. Uma interpretação sentida que vagueia por citações de mundos paralelos. O final da música evoca o “Centro Comercial fechou” do próprio Palma para logo de seguida se quedar no Entertainer” de Joplin.

Não fechamos sem antes entrar no “Palco de Feras”, a faixa mais poderosa e sombria do álbum. Mas talvez a mais apelativa também.

Encerramos com “Cal”. Uma peça a evocar o romance de José Luís Peixoto.

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Autor: Tiago Videira