Joe Morris Quartet

Ciclo “Isto é Jazz?” na CulturgestJazz | 2 de Dezembro | 21h30 | Pequeno Auditório Preço único: 5€

O Joe Morris Quartet é provavelmente o exemplo mais representativo da característica identidade do jazz de Nova Iorque na década de 1990. As passagens por espaços como a Knitting Factory, e discos como Underthru e At the Old Office, marcaram aquele tempo e a estética que ficou conhecida como própria da cena downtown. O projeto desfez-se em 2000, para de novo se reunir com um disco, Balance (2014), que veio estender para outros desfechos o que antes tinha proposto. Porque se este é o mesmo Joe Morris Quartet, é também outra coisa que o passado não fazia suspeitar.
Apesar de ter tido diferentes músicos ao longo dos anos (e dos álbuns), o Joe Morris Quartet é sobretudo associado à sua última formação – Joe Morris, Mat Maneri, Chris Lightcap e Gerald Cleaver – e aos álbuns Underthru (1999), At the Old Office (2000) e, mais recentemente e após 14 anos de interregno, Balance (2014). Foi esta que atingiu um enorme sucesso junto do público e da crítica.
Curiosamente, foi o reconhecimento e o sucesso que ditaram o fim do quarteto em 2000. Os clubes, os festivais e as editoras queriam que as fórmulas propostas pelo grupo fossem fixadas e repetidas, algo que os membros do grupo recusaram terminantemente. Joe Morris chegou mesmo a afirmar: “Uma só abordagem, uma estética, uma maneira de organizar a minha música não é suficiente para mim.”
Ao fim de 14 anos, o Joe Morris Quartet voltou a reunir-se e editou Balance. Não para tocar mais do mesmo, mas para tocar o mesmo de forma diferente, avançando mais longe nas suas implicações ou escolhendo outras trajetórias.
Rui Eduardo Paes explica no texto Mudar, mudar sempre sobre o Joe Morris Quartet: “Tudo isso vem passando pelo crivo dos três processos que, como anunciou no livro Perpetual Frontier: The Properties of Free Music, caracterizam a criação de música livre: síntese, interpretação e invenção. «Síntese dos materiais existentes, interpretação destes e de novos materiais deles derivados e, finalmente, invenção de criações inéditas que possam depois também ser sintetizadas e interpretadas.» O seu conceito de “fronteira perpétua” é essencial para compreender o modo de estar na música de Joe Morris: contra o propósito de «duplicar o que já existe», defende que se deve continuamente levar esse património para «um nível mais elevado de inventividade».”
No fundo, Morris quer tocar uma música livre, que não aceita seguir um caminho previamente determinado, rebelando-se contra todas as ortodoxias e contra uma ideia linear de prosseguimento da tradição. É por isso que faz questão de nunca se repetir – e por isso quis acabar com o Joe Morris Quartet em 2000, quando lhe pediam que repetisse…
Mas porque fala Joe Morris em free music e não em free jazz? É o próprio que nos dá a resposta: “Penso que o jazz, enquanto indústria, enquanto metodologia patenteada, está feito. O jazz tem um código: «Isso não é jazz; o jazz é isto.» Chegámos ao ponto em que alguém, Wynton Marsalis, veio dizer-nos o que é o jazz, assim o matando, embalsamando e colocando atrás de uma vitrina. Eu não quero ter nada a ver com isso. Não estou à procura de um fim nem de uma definição, mas da fronteira perpétua. Já não chamo ao que faço «jazz» porque não quero ver a minha música definida e parada no tempo. Prefiro chamar-lhe música livre. Não me interessa saber se o jazz sobrevive ou não. Para mim, Louis Armstrong era um músico livre, Charlie Parker era um músico livre, Anthony Braxton é um músico livre. O Parker não quer saber se tocamos como ele ou não, pois está morto. De resto, se estivesse vivo não tenho dúvidas de que exigiria que não o copiassem: «Deixem-me sossegado, façam a vossa própria música.»”
Eis porque foi necessário esperar 14 anos para ver um novo álbum do Joe Morris Quartet – porque o seu líder não acredita num estilo único e cristalizado, antes na mudança e na evolução. Não lhe interessa o que o público quer, mas sim o contante aperfeiçoamento. Nas suas palavras, “(…) sou músico, não um comerciante. Tenho menos concertos, vendo menos discos e já não andam todos a jurar que sou o melhor guitarrista do mundo, mas a minha música melhorou.”
Podemos concluir com Rui Eduardo Paes que “este concerto, não se esperando igual ao que se ouve no CD lançado em 2015, será uma sua consequência. Numa articulação de causa e efeito por vezes o efeito não o é propriamente, mas uma explicação da causa. E o que se explica neste caso? Que há muito ainda por fazer, justificando que a música deixe de andar aos círculos, querendo abocanhar a sua própria cauda.”