MAFALDA VEIGA – CHÃO

Mafalda Veiga é uma criatura frágil e penetrante que irrompe pelas nossas almas a dentro, devassa a nossa privacidade e a expõe sem pudor nas suas músicas.

O que quer que esteja dentro de ti está presente nas músicas de Mafalda. Essa é a melhor forma de descrever o que se passa com alguém, lânguido, pacato, terno que, num recato vocálico, conta histórias de todos os dias, de mim e de ti. Mafalda não é nem nunca foi uma cantora explosiva. Nem precisa de o ser.

É uma voz contida e tímida que preenche o fundo e nos embala. Neste disco, “Chão”, a sua voz sobressai particularmente a sussurrar letras trabalhadas e pensadas ao milímetro para nos porem a pensar e deixar com um sorriso no canto da boca.

É um disco com sons essencialmente acústicos e orgânicos, como assim foi pensado pelo seu produtor, Miguel Ferreira, o teclista dos Clã.

“Ao teu Dispor” é uma faixa que capta logo essa essência do mais íntimo de nós e faz uma ponte entre um passado cheio de sonhos, de um pouco de céu e de um menino e um piano até chegarmos aqui. “Balançar” e “Outra margem de mim” completam essa ponte, na área das baladas quase tristes e etéreas.

Do outro lado, temos os temas aguitarrados e optimistas como sendo “Os dias”, “Abraça-me bem” ou “Estrada”. Estes são os temas de viagem, aqueles que ficam bem a para ouvir no carro, aqueles temas leves e descontraídos sem o peso da filosofia.

O resto vai-se passeando entre um registo e o outro, sem nunca sair da linha de coerência e coesão de Mafalda. Tudo para terminar em tons de um quase clássico passado, uma outra era. “Os imortais” e sobretudo “Era uma vez um pensamento teu”, são as perfeições a fechar um caminho. São os temas que ficaram atrás da porta para serem ditos baixinhos ao ouvido enquanto nos deixamos cair no sofá agarrados a qualquer coisa que gostamos muito.

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Autor: Tiago Videira