Nitin Sawhney brilhou no Coliseu de Lisboa dia 20

CHOQUE DE CULTURAS COM TEMPEROS INDIANOS

Num muito concorrido e aguardado concerto, Nitin Sawhney ofereceu uma viagem sonora pelos cinco continentes, mesclando múltiplos estilos e tendências na apresentação do seu novo disco, “Philtre”.

Apesar do mercado discográfico nacional ser reduzido e limitado, o público português tem manifestado uma adesão muitas vezes inesperada a artistas que, não se sabe bem como – não será certamente pelo apoio da maioria dos media -, conseguem implementar-se aos poucos, despoletando consideráveis fenómenos de culto.

Tendo em conta o muito concorrido concerto decorrido no Coliseu de Lisboa no passado dia 20, Nitin Sawhney é mais um nome a acrescentar à lista de notáveis, conseguindo conquistar uma vasta audiência (a sala estava cheia) e gerando sem dificuldades um contagiante ambiente festivo.

O compositor e multi-instrumentista conta já com uma discografia consistente e elogiada, e regressou a palcos nacionais para apresentar o seu sexto registo de originais, “Philtre”, mais um concentrado fusionista que mescla pop, trip-hop, soul, dub, flamenco, r’n’b, hip-hop, rock e spoken word, entre outros géneros, acrescentando a esta vasta amálgama uma forte carga de sonoridades indianas.

O terceiro disco do músico, “Beyond Skin”, de 1999, é já um clássico do “asian underground”, destacando Nitin Sawhney como uma figura de proa num movimento que inclui, entre outros, os Asian Dub Foundation, Talvin Singh ou Badmarsh & Shri.

Diversidade e eclectismo foram uma constante ao longo das cerca de duas horas de espectáculo, que contou com a colaboração de vários vocalistas, femininas e masculinos, que o músico foi apresentando.

O cardápio sonoro foi geralmente apelativo, percorrendo diversas geografias onde ritmos apaziguados foram interrompidos por alguns gritos de revolta.
As atmosferas disseminaram a postura pacifista e tolerante que Sawhney expõe nos discos, que musicalmente resulta quando congrega os melhores elementos de uns Massive Attack, Zero 7 ou Transglobal Underground mas que, por vezes, envereda também por um menos interessante registo “new age”, mais próximo de uns Enigma ou mesmo Enya.

Apesar destes pontuais deslizes, a noite ofereceu alguns momentos exemplares, casos do emblemático “Sunset”, com a voz de Sharon Duncan, ou do belíssimo “Spark”, interpretado por Tina Grace.
Pelo meio evidenciou-se um afável contacto com o público e até algumas críticas à política norte-americana (ao que parece, indispensável na maioria dos concertos de hoje), realizadas através de imagens de Bush e da mascote da McDonald’s no ecrã ao fundo do palco.

Efusivamente aplaudidos, Nitin Sawhney e os seus colaboradores passaram assim com distinção num concerto que destilou competência e “savoir faire”, ainda que as composições do músico já tenham sido mais profícuas e inventivas. No entanto, a julgar pela reacção do público, as canções de Sawhney ainda estão, decididamente, dentro do prazo de validade.

Autor: Gonçalo Sá