Pedro de Tróia apresenta novo single “Carrossel” com Rui Reininho
Créditos: Tomás Monteiro
Depois do electrizante single “Gosto Tanto de Ti”, Pedro de Tróia apresenta-nos agora “Carrossel”, máquina rotativa sentida e cantada em dueto com Rui Reininho. Ambas as canções integram o segundo disco – “Tinha de Ser Assim” – com edição marcada para outubro de 2021.
Pedro de Tróia, faz a apresentação de “Carrossel” com um texto escrito na primeira pessoa:
« “Um sonho que começou nas viagens de carro com o meu Pai, entre Coimbra, Viseu e Manteigas.” Esta é uma frase retirada da carta digital que escrevi ao Rui há uns meses e cuja construção – aparentemente banal – diz tanto do que fui, do que sou e do que faço por vir a ser. Se não estou tão certo de que todos os inícios tenham um fim, porque um fim pode ter tantas formas, o mesmo não posso dizer sobre todos os finais. Todos os finais têm um começo. Seja no tempo, no espaço, dentro de nós ou até mesmo dos outros, antes de um final existe tudo o que foi e, antes de tudo o que foi, estar-lhe-á sempre associado o instante que esse tudo despertou.
Daqui podia seguir numa prosa de leitura de praia, com o ruído do mar, das pessoas e das bolas com creme e sem creme a compor a paisagem sonora, mas opto por me cingir ao essencial: certa madrugada escrevi uma canção a que chamei “Carrossel” e que, horas depois, fiz chegar ao Rui Reininho, numa carta breve em que me contei e na qual estendi o convite de lhe dar vida comigo. O início de um tudo que não terá fim, porque as canções são eternas.
No ano em que completo 33 anos, fico a saber que estou a 33 anos de distância, charme e eloquência dos 66 do Rui. Tenho uma idade que é ímpar e o seu dobro é par, mas, por mais ímpar que seja, há uma estrada que percorro e na qual aprendo a andar. Dirigir-me a um sonho, por um sonho, enquanto sonho, é (e tem sempre de ser) uma enorme satisfação, mesmo que nos recusem com educação. Sonhei, criei, sonhei, escrevi, sonhei, esperei, sonhei, sorri.
Sorri porque, por maior símbolo seja este a quem em dirigi – é para muitos um ícone, para mim uma escola e para si mesmo a natureza, com certeza – o Rui é uma referência transgeracional, na escrita, na música, no espectáculo, nas respostas, no olhar, no saber, no perder, no viver e no fazer sentir. É um dos portugueses mais identificáveis. Veste-se de si e de mais ninguém. Carrega uma alma que é cinema, tão submersa quanto além da estratosfera, dado o seu talento e altura. Em silêncio, com o olhar toca no céu. Poucos podem coçar o céu por mero prazer, mas, por maior que seja a sua grandeza, é anã à beira dos calcanhares da sua generosidade.
O Rui aceitou o convite e, assim, a canção ficou completa. Não só a canção, como parte de mim também. Não me é raro dizer que vivo em lagos de sonhos, que foram cavados nas viagens de carro que comecei por referir. Nessas viagens aprendi a ouvir o que nos querem mostrar ou dizer; aprendi a apreciar o país-paisagem-deslumbrante que atravessávamos; e mergulhei no meu silêncio, onde tantas vezes me perdi e outras tantas me entendi.
São lagos que, quanto mais deles tento fugir, maiores se tornam. Não em altura, mas em largura. Uma largura que dista cada vez mais uma margem da outra. Uma margem de onde podemos chamar tudo, mas de onde só o eco vem, se não mergulharmos. Um mergulho em águas turvas, nas quais nos multiplicamos e onde pomos tudo o que somos, em cima de tudo o que fomos, na tentativa aflita de erguer o melhor que sonhamos. De quilos de dor e lágrimas quanto baste, faço a massa dos bolos mais lindos, porque há carrosséis que não param. E se há carrosséis que não param, é escolher, sem querer, entrar. »