Regeneração de ossos vale bolsa de 2,5 milhões de euros para cientista da Universidade de Aveiro

O cientista João Mano, da Universidade de Aveiro (UA), acaba de vencer uma bolsa de 2,5 milhões de euros atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês) para trabalhar na regeneração de tecidos ósseos. Esta é já a segunda vez que João Mano, especialista em biomateriais, é galardoado com a ERC Advanced Grant, uma das mais importantes bolsas europeias. Neste concurso, o cientista de Aveiro foi o único em Portugal a receber este tipo de bolsa.

A bolsa permitirá, durante 5 anos, desenvolver trabalho na área da bioengenharia de tecidos humanos e biomateriais avançados, nomeadamente na criação de estratégias para a regeneração de tecido ósseo, que poderá ter impacto em casos de perda massiva ou fraturas extensas de osso.

“Sinto-me extremamente honrado com este reconhecimento extraordinário, e pelo apoio de todos os membros do grupo”, congratula-se João Mano, professor catedrático no Departamento de Química e investigador no CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro, uma das unidades de investigação da UA.

“Com esta bolsa, vemos assim reforçada a oportunidade de combinar investigação de base de elevado nível com soluções terapêuticas radicalmente inovadoras que poderão vir a ter impacto na qualidade de vida de pacientes”, aponta.

Artur Silva, Vice-reitor da UA para a área da Investigação, sublinha que esta bolsa é “mais um reconhecimento europeu da investigação de ponta” que se realiza na Academia de Aveiro. Esta ERC Advanced Grant, aponta o responsável, “reconhece a qualidade do nosso docente e investigador João Mano e da investigação que realiza e é também uma prova da aposta que tanto a Reitoria como o Laboratório Associado CICECO têm colocado nestes concursos a estas importantes e milionárias bolsas europeias”.

Uma das grandes inovações do projeto “REBORN: Full human-based multi-scale constructs with jammed regenerative pockets for bone engineering” liderado por João Mano prende-se com a utilização de proteínas obtidas a partir de tecidos recolhidos durante o parto, e normalmente descartáveis, como a membrana amniótica e o cordão umbilical. Estas servirão de base para a construção de dispositivos altamente hierarquizados, desde a nano à macro-escala, com uma grande capacidade de gerar tecido ósseo mineralizado e promover a sua vascularização.

Desses tecidos perinatais também será possível retirar células que desempenharão um papel fundamental na construção dos tecidos em laboratório. As células serão introduzidas dentro de pequenas “placentas” artificiais que, ao fornecerem sinais bioquímicos e mecânicos adequados, fomentarão a formação de micro-tecidos de forma completamente autónoma. A aglomeração dessas “bolsas regenerativas” de forma controlada no espaço permitirá o desenvolvimento de tecidos tridimensionais à escala dos defeitos ósseos reais, com grande precisão geométrica.

Para além das aplicações in vivo prevê-se que estes dispositivos inovadores possam também servir como modelos de doenças de dimensões e especificações semelhantes aos dos tecidos reais, a fim de testar novos fármacos e terapias, podendo assim ser vistos como alternativa aos ensaios com animais ou aos testes clínicos.

João Mano possui trabalho reconhecido internacionalmente no domínio do desenvolvimento de biomateriais e propostas de novos conceitos para aplicações biomédicas, em particular na área da Medicina Regenerativa, e dirige um dos grupos de investigação mais ativos na europa na área dos biomateriais e bioengenharia de tecidos humanos, o COMPASS Research Group (http://compass.web.ua.pt/).

Critérios muito apertados
Estas bolsas individuais são conseguidas após a participação em concursos extremamente competitivos, em que os critérios de avaliação se baseiam unicamente na excelência científica. A avaliação inclui a análise do currículo científico do investigador, que deve estar no topo dos investigadores a trabalhar na Europa, e também na excelência do projeto a executar, o seu grau de risco e a abordagem radicalmente inovadora nas fronteiras da ciência adotada no plano de trabalhos proposto.

Mesmo recebendo candidaturas dos mais eminentes cientistas de europa, a taxa de sucesso de bolsas financiadas este ano foi inferior a 10 por cento. Esta bolsa avançada foi a única, de entre as 185 aprovadas, atribuída a um investigador português ou a trabalhar em Portugal.

Um feito notável e raro foi o desta bolsa avançada ser a segunda que João Mano conseguiu ver financiada, sendo que a primeira ainda está em execução. Adicionalmente, uma bolsa do ERC para prova de conceito (ERC-PoC) já havia sido atribuída em 2018. As bolsas ERC-PoC, apoiam atividades no estágio inicial de transformação de resultados obtidos por investigadores possuidores de bolsas ERC em propostas com potencial comercial, capazes de alcançar benefícios económicos ou sociais.

Para além desta bolsa avançada, em 2019 também já haviam sido atribuídas 3 bolsas para investigadores do CICECO da UA: duas bolsas de consolidação (Consolidator Grants, ERC-CoG) e outra bolsa de prova de conceito (ERC-PoC).