Sampladélicos Não nos deixeis cair em tradição

Não nos deixeis cair em tradição, não é obviamente um disco, um cd, é muito mais que isso, é uma obra.

Um documento para o futuro, uma posição ética e política, uma encenação construída com os conceitos individuais do que é tradição, ou património, ou mesmo música.
Somos educados para dar nome às coisas e para honrar e aceitar muitos conceitos, sem os interrogar, em quase tudo, na arte, na gastronomia, aquilo a que chamamos muitas vezes de senso comum, está muito presente na nossa sociedade.
Os Sampladélicos são só dois*, não tocam baixo, guitarra e bateria, não criam com sons provenientes de “Softwares” para compor música, criam com coisas vivas, com pessoas, com sons orgânicos, muitos com tendência a desaparecer.
O que fazem são colagens vivas das paisagens sonoras de um país: um búzio na ilha do Pico, um tear em Guimarães, uma viola de arame na Madeira, um amolador no Alentejo, bombos das fanfarras dos Bombeiros, mulheres a dançar fandango e adufeiras, poetas populares, polifonia do Minho e de Lafões, Cante Alentejano e cavaquinhos de Braga, conversas sobre o sistema nacional de saúde e bênção de ovelhas na serra da Estrela. Cada uma das faixas é um mundo próprio, uma criação do possível, uma ficção científica da possibilidade de poder haver sons organizados, a que podemos chamar de música, assim, cheios de cor, de vida, nunca respeitando um tempo certo ou uma métrica, pois é trabalho feito por humanos com máquinas a partir de sons de humanos, é sempre imperfeito, mas extremamente complexo.
É também um sonho, uma hipótese, a de podermos dançar e fruir com as memórias, as memórias da infância, das aldeias, das avós, disso a que chamamos memória colectiva de uma região, de um país. E é sobretudo fazer perguntas, interrogar, espicaçar e “nunca nos deixar cair em tradição”.

*Sílvio Rosado músico e Tiago Pereira documentarista criam uma performance audiovisual a partir das gravações de práticas musicais ou ambientes sonoros de um determinado local. Construindo por um lado um arquivo vivo de documentos de uma música/sonoridade identitária local, que pode ser consultado e que mantêm a memória viva, e por outro lado a desconstrução desse mesmo arquivo/ memória, permitindo que a comunidade se reveja e se questione e ao mesmo tempo criando um espaço lúdico de fruição onde se pode dançar a memória ou seguir uma história.

Ficha Técnica
Os Sampladélicos, Tiago Pereira e Sílvio Rosado vão de encontro às suas raízes para a seguir as ficcionar, criando-lhes contextos novos e outras formas de vida. O seu trabalho é uma encenação a partir dos conceitos pessoais de cada um do que é a tradição e o património.

O álbum foi totalmente criado com gravações da música portuguesa a gostar dela própria desde Janeiro de 2011, sem a utilização de sintetizadores, caixas de ritmos e beats estrangeiros.
Foi misturado e masterizado no estúdio pónei dourado pelo Eduardo Vinhas, a produção ficou a cargo da música portuguesa a gostar dela própria e a capa é do Pedro Lourenço.
E, não seria possível sem os músicos e todas as velhinhas deste país, os tocadores de violas, Gaitas, flautas, bombos, adufes, búzios e palmas.