Alcione Scarpin – ENTREVISTA

As «Conversas Terapêuticas» de Alcione Scarpin Setembro de 2004

Alcione Scarpin - ENTREVISTAA psicóloga brasileira Alcione Scarpin, que reside e trabalha em Portugal desde 1987, iniciou no passado mês de Julho no «Inside» a coluna «Conversas Terapêuticas», numa fórmula já testada com êxito na rubrica com o mesmo nome que, entre Junho de 2001 e Janeiro de 2004, manteve semanalmente na RDP/Internacional.

INSIDE- Como lhe surgiu a ideia para formalizar este tipo de rubrica, utilizando uma linguagem «desinibida» na abordagem de uma matéria aparentemente tão complexa, e ainda tão eivada de tabus éticos e sociais, como é o da temática psicológica?

ALCIONE Scarpin – A rubrica «Conversas Terapêuticas» surgiu como uma forma de homenagear o genial pensador português Agostinho da Silva – que tantos anos residiu e leccionou no Brasil e com quem tive o raro privilégio de conviver já em Lisboa – tendo-a iniciado no ano da sua morte, em 1994, ainda em revistas e jornais, e depois na Rádio, mais concretamente na RDP/Internacional, num programa coordenado pela jornalista Teresa Morgado, até que surgiu esta excelente oportunidade de lhe dar continuidade na página que agora assino no «Jornalinside».Quanto ao título da rubrica, chama-se Conversas para lembrar o programa que com tanto sucesso o professor Agostinho da Silva apresentou na RTP, com o título de «Conversas Vadias», dado ser ele próprio um conversador nato que comunicava facilmente com pessoas de todas as idades (sobretudo com os jovens), raças e credos políticos ou religiosos; e cujas obra completa, é justo realçar, está neste momento a ser publicada de forma criteriosa pela «Âncora Editora», sob a égide da Associação Agostinho da Slva.E chamo-lhe Terapêuticas pelo objectivo que, através delas, pretendo alcançar no exercício da minha actividade de psicoterapeuta. E são terapêuticas no sentido da mudança e do desenvolvimento.Deste modo, estas «Conversas Terapêuticas», se consideradas como um espaço de diálogo e de reflexão, podem levar os leitores a promover alterações interiores positivas na sua maneira de encarar a vida, com todas as suas adversidades e mistérios, muitos deles ainda insondáveis.De referir que o carácter dinâmico e interactivo da palavra faz desta rubrica um espaço de diálogo permanente entre mim e os leitores.

INSIDE – Sabemos que antes de chegar a Portugal, em 1987, esteve a trabalhar três anos nos EUA. Como lhe decorreu essa experiência?

ALCIONE SCARPIN – De facto estive cerca de três anos naquele país, mais concretamente na cidade de Nova Iorque, onde prestei serviço num Centro Ocpacional para jovens e adultos portadores de deficiência mental, tendo aí desenvolvido um trabalho de terapia de grupo que foi muito gratificante. Por outro lado, aos fins-de-semana eu fazia de «baby-sitter» especializada para uma criança de quatro anos portadora de Síndrome de Down.Esta minha permanência nos EUA foi um reforço muito positivo, nos meus padrões de auto-estima, ao ver aos 30 anos o meu trabalho aceite e valorizado. Como reflexo positivo dessa experiência, tenho agora imenso gosto em orientar estágiários dos Cursos Superiores de Psicologia, pois sei o quanto é importante a esses jovens em início de carreira sentirem-se bem no exercício da profissão que escolheram.

INSIDE – Também permaneceu algum tempo em França?

ALCIONE SCARPIN – Mas isso aconteceu quando já estava em Portugal. Foi em 1992, durante um estágio de quatro meses, em Paris, a convite do psiquiatra Jean Luc Ricq, da «Association pour la Réadaptation des Infirmes Mentaux», num processo de troca de experiências, em que levei na bagagem os conhecimentos adquiridos, trazendo em troca alguns ensinamentos importantes, principalmente ao nível do verdadeiro sentido da integração em sociedade de deficientes mentais profundos em idas aos museus, bibliotecas públicas, praias, etc…

INSIDE – E relativamente a Portugal: foi difícil a sua adaptação profissional?

ALCIONE SCARPIN – Quando cheguei a Lisboa, em 1987, depois da minha experiência profissional de três anos em Nova Iorque, onde a Psicologia já era bastante reconhecida e aceite, foi quase como que um regresso ao passado, ou seja à situação que havia conhecido no Brasil, com a agravante de ser uma estrangeira a competir num mercado naquela altura, mais do que hoje, com uma oferta de trabalho na minha especialidade muito limitada. De qualquer maneira consegui arranjar colocação na APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Lisboa) – instituição na qual fui coordenadora de um dos Centros ao longo de 10 anos e onde actualmente desenvolvo um projecto de psicoterapia de grupo para jovens e adultos com déficite cognitivo. Entretanto, abri o meu consultório, na zona da Praça do Chile, e criei, em 2003, o Centro de Estudos Psicopedagógicos, uma empresa Unipessoal que recentemente começou a editar a Revista «AS PESSOAS – Educação e Ciências», da qual sou directora, e que já tem dois números publicados.

INSIDE – A terminar gostaríamos então que nos falasse um pouco do projecto dessa revista e dos objectivos que com ela pretende atingir no contexto da Imprensa portuguesa actual.

ALCIONE SCARPIN – A revista, de periodicidade trimestral, surgiu por eu ter sentido existir em aberto um espaço para uma publicação que touxesse a público assuntos variados, tanto a nível da Psicologia como da Educação e de outras ciências e formas de expressão, através de uma abordagem ética e generalista, utilizando uma linguagem não demasiado académica, logo o mais simples possível, sem descurar, no entanto, antes reforçando, o rigor jornalístico de todos os temas abordados.
A revista tem um fio condutor que é a Saúde Mental e o desenvolvimento da inteligência, como factores essenciais e ao mesmo tempo inseparáveis, pelo que muitas vezes ela vai certamente incomodar muitos dos seus leitores, ainda que pela positiva, na medida em que levá-los-á a reflectir sobre os mais variados assuntos que, num quotidiano agitado, lhes passam habitualmente despercebidos.
Os dois números já publicados – o próximo sai em Outubro – estão a funcionar como uma espécie de NÚMEROS ZERO para divulgação e angariação de assinaturas (já temos inúmeros leitores e assinantes, tanto em Portugal como no Brasil, onde a revista tem distribuição simultânea, pois o facto de eu residir e trabalhar em Lisboa, ajuda a fazer a «ponte» entre os dois países.

Autor: Manuel Geraldo