NGA – O reflexo perfeito da cultura Hip-Hop!

NGANGA não é um “mais” um artista. Além de escrever todas as letras das suas músicas, que reflectem aspectos da sua vida e de outros jovem que partilham experiências idênticas, ainda tem um grupo, o Força Suprema (do qual fazem parte os cantores G-Don e Masta, entre outros) e a própria editora, a Mad Rap, cujo objectivo é lançar artistas com talento e que dignifiquem a cultura Hip-Hop.

INSIDE – NGA, o teu primeiro álbum a solo vai ser lançado a 28 de Agosto. Por que o consideras um álbum “ a sério”?

NGA – É o meu primeiro álbum a solo e a sério, lançado pela minha própria editora – a Mad Rap. Ao longo de cinco anos fui fazendo com os meus “rapazes” vários trabalhos, amadores, no total de 9, para irmos evoluindo como artistas, este é o primeiro passo mais sério, mais à frente; investimos muito trabalho e muito esforço.

INSIDE – Por que motivo decidiste lançar o álbum pela tua própria editora? Normalmente, contacta-se várias editoras que poderiam até promover o teu trabalho a uma escala nacional ou até internacional

NGA – Desde que começámos a fazer música, temos assistido a muitas coisas más para os outros artistas. Muitos lançaram coisas no momento por editoras e depois não é nada daquilo que esperam. Os meus rapazes e eu achámos que devíamos ir com calma, fazer uma coisa nossa desde o princípio e se corresse mal era nossa responsabilidade. Por isso quisemos ter sempre uma editora, desde o princípio. O primeiro trabalho foi uma cassete em 1998.

INSIDE – Há quanto tempo existe a editora Mad Rap?

NGA – Só agora é que está uma “coisa” séria, antes estava no papel. Sempre quisemos ter uma editora nossa para fazer o que quiséssemos, conhecer as coisas por dentro (quem faz a capa, na fábrica, quanto tempo demora, como se masteriza, etc.), tudo isso. Tivemos a infelicidade, por exemplo, de trabalhar com uma distribuidora que nos está a prejudicar, mas que, por outro lado, nos deu mais a necessidade de juntarmos as forças. Pensamos como empresários, não só como artistas.

INSIDE – E é fácil conciliar as “carreiras” artística e empresarial?

NGA – Não é. Neste momento, estamos a trabalhar no meu álbum… é mais fácil. Mas é mais difícil trabalhar com outros artistas como editora…

INSIDE – Quando se fala em Hip-Hop – és considerado um cantor Hip-Hop – parece existir a ideia de que é uma música agressiva, destinada a um grupo restrito de pessoas… Em que consiste, afinal, a cultura Hip-Hop?

NGA – Há muitas razões para a música ser olhada assim. As pessoas que fazem Hip-Hop aqui em Portugal têm menos de 20 anos, não olham a coisa com respeito; muitos artistas não querem perder o respeito da “rua” e se puserem uma capa mais bonita, isso vai ser considerado “comercial”, não está a ser verdadeiro, puro…

INSIDE – Mas esta cultura é anticomercial?

NGA – Não é nem deixa de ser. Ela está no seu “canto”, mas há pessoas de fora que estão a tentar explorar isso e quem está lá dentro acha isso injusto e com toda a razão. Por exemplo, em vez de se passar aquilo que se sente, passa-se aquilo que se vende, que as editoras acham que vai vender…

INSIDE – A música rap fica, assim, desvirtuada?

NGA – Exactamente. Eu encaro a música rap como um reflexo da vida; eu falo da vida que conheço, que vivi; é muito fácil pegar num artista, pedir-lhe para fazer duas músicas de amor – e ele não ama ninguém – fazer um vídeo para a MTV, mas acaba por ser uma música cor-de-rosa e artificial e não é nada daquilo que era suposto ser. Se calhar vai vender 1.000 cópias nas pessoas erradas e 100 nas pessoas certas.

INSIDE – O G-Don e o Masta também partilham da mesma filosofia?

G-DON – Vivemos e crescemos da mesma maneira, passámos pelas mesmas coisas.

INSIDE – Revêem-se nas letras que o NGA escreveu para este álbum?

G-DON – Exacto, as coisas mais pessoais da vida dele, como na faixa “A Carta”, em que fala da ausência do pai, também aconteceram comigo.

MASTA – A maior parte dos africanos em Portugal, da nossa geração, veio sem o pai. E nessa música ele fala das grandes falhas que o pai, ausente, fez e fala por todos porque todos passaram pela mesma história.
Este álbum reflecte um pouco a nossa geração (entre os 18 e os 25 anos) e as situações problemáticas por que passaram. Vai ter um grande sucesso porque a maior parte dos jovens africanos, nomeadamente angolanos, identificam-se muito.

NGA – Este álbum é um reflexo da minha vida, da minha pessoa.

INSIDE – E como é que foi a tua vida? Conta-me alguns episódios que estejam reflectidos no álbum.

NGA – Eu vim para Portugal com a minha mãe e a minha irmã e o meu pai ficou em Angola, depois foi para Luxemburgo e arranjou mulher e filhos. O facto de o meu pai se ter separado da minha mãe são coisas da vida, mas um pai não deve separar-se dos filhos. E isso aconteceu com estes meus amigos e com muitos outros. Esta experiência é reflectida na faixa 4, “A Carta”.

INSIDE – A faixa 11, intitulada “Kampeões”, que foi escolhida para lançar o CD, (com videoclip realizado pelo Pedro Davim), juntamente com a faixa 10, “Cara Metade”, diz o quê?

NGA – Esta música não tem nada que ver com o resto do álbum. O álbum tem o meu nome – EDS-ON – porque é a minha vida. Esta música tem que ver com a cultura Hip-Hop precisamente, com a atitude para enfrentar a vida, com a união e a força. Nós somos bons. O videoclip tem a minha família, para expressar a união. E muitos jovens africanos têm uma atitude Hip- Hop, mas estão a empregar essa força nas cenas erradas, como nas drogas, na violência, nos roubos, nos assaltos, e assim.

Masta – Por isso, quando há festas Hip-Hop há sempre confusões…

NGA – Claro que estamos a falar de uma minoria, mas geralmente chama mais a atenção das pessoas pela componente negativa.

INSIDE – O que entendem por família?

NGA – Todas as pessoas que estão na editora, com quem passo todos os dias.

INSIDE – O videoclip da “Cara Metade” vai ser lançado em Outubro. Mas esta é uma canção de amor…

NGA – Amor entre aspas. Fala dos jovens que conheço, que estão naquela fase de viver tudo muito rapidamente e que se calhar perdem boas raparigas que podiam ser, no futuro, as suas companheiras. São os maus rapazes que encontram boas raparigas.

INSIDE – Além destas duas, que outras músicas do álbum reflectem episódios importantes da tua vida ou da geração que representas?

NGA – Todo o álbum fala daquilo que eu sei e do que sinto.

INSIDE – Por isso seria impossível alguém escrever as tuas letras?

NGA – Completamente impossível.

INSIDE – Onde é que vai ser feito o lançamento do CD?

NGA – O lançamento estava previsto anteriormente para o dia 7 de Agosto, mas houve um atraso com a distribuidora, não queremos marcar mais nenhum. Ou seja, o lançamento vai ser nesse dia, ainda não temos espaço, mas podem ver no nosso site www.madrap.com.

INSIDE – Quem quiser comprar o CD, ouvir-vos, conhecer-vos…como podem fazê-lo?

NGA – Podem comprar directamente no nosso site, vamos colocar no maior número de lojas e discotecas do país. A partir do dia 28, vai estar nas principais lojas do país. Fora do país, pode ser mais difícil, mas podem sempre adquiri-lo através do site.

INSIDE – A quem se dirige o teu álbum?

NGA – A todos os jovens que se identifiquem com a música. Quem gosta de boa música tem de ouvi-lo!

INSIDE – Qual é a vossa filosofia como editora?

NGA – Todos os artistas que passarem por nós vão ter de passar por ela: ter boa música, boa imagem e não estragar o que queremos reflectir.

INSIDE – Preocupam-se muito com a vossa imagem?

NGA – No último ano temos, como grupo, aprendido muito e a imagem é fundamental. E temos uma imagem a limpar…

INSIDE – A vossa?

NGA – Não, a da cultura Hip-Hop!

Autor: Dora Santos Silva