CLÃ – CINTURA

Três anos após “Rosa Carne” os Clã estão de volta com um trabalho leve, mordente e teimoso.

Cintura é um disco por si só esguio. Uma palavra metaforicamente ondulante dá-nos um mote para um mundo de aventuras de uma mulher “entradota mas atrevida”. Manuela Azevedo solta-se nas letras de Carlos Tê (a maioria) num registo íntimo e bastante mais leve que em muitas faixas experimentais de anteriores álbuns. No entanto, é na pérola do disco – “Mandarim”, que mais diversão inusitada encontramos. Este tema de Hélder Gonçalves quase parece um circo de sedução com algum disparate à mistura, mas absolutamente contagiante e provocador. A sonoridade remete-nos para o irmão mais velho – Sérgio Godinho.

O mesmo já se verifica no, também empertigado, Tira a Teima, o single de apresentação, aliás. As guitarras levemente sujas e os sons sintéticos em progressões pouco ortodoxas, no mundo pop, levam-nos para universos do cançonetista de intervenção, explorados aqui num registo de entretenimento, libertando-se da carga política.

Um trabalho fascinante pela sonoridade que, sem ser inovadora, continua a ter um cunho muito próprio pertencente a um pequeno universo de culto aqui em Portugal. Os doze temas mantêm a linha coerente do registo e todo o álbum permanece numa estrutura semântica similar: é daquelas coisas – ouvindo alguns segundos, sabemos do que se trata e não engana ninguém.

Boa banda sonora para um serão de cartas.

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Autor: Tiago Videira