TIAGO BETTENCOURT E MANTHA

O JARDIM

Tiago Bettencourt surge no panorama musical Português desgarrado dos Toranja. Agora, assinando em nome próprio e com os Mantha um projecto de estilo.

O “filho de Jorge Palma” está de volta num registo contrastante. Pode-se dizer que o disco são três canções e mais um revivalismo de Palma’s Gang. Sem tirar nem pôr.

Por um lado temos a Canção Simples. Inebriante, viciante, timbres simples e ambientes desconexos infantis, sincopas, contratempos, palavras metidas a martelo e a descompasso num arranjo que promete muita alegria e invenção. A versão em dueto com Sara Tavares é das coisas mais preciosas que apareceram nos últimos anos em Portugal. Esta é a porta de entrada e de saída deste jardim e o caminho sem dúvida a percorrer. Esta canção sem dúvida vale o disco todo.

Por outro lado, dois apontamentos muito seus. Que também escapam. Que também são verdadeiramente genuínos e bons: “O jardim”, por si só, e “O Jogo” com o seu piano. Duas faixas a emprestarem um tom de originalidade e uma linha condutora que nos leva para o ramo de uma fantasia ingénua e colorida. Algo para deixar água na boca.

E isto, porque é só isto. E se fosse só isto já chegava e estaria bem feito. Mas há mais. Mas o mais que há soa redundante. Todas as outras faixas a começar logo pela “ponte” soam claramente a Jorge Palma do princípio dos anos 90. E o original fica a ganhar. É uma boa referência, é um bom mestre, é a agradável de se ouvir, mas fica a sensação que se podia ter inovado. Que o artista é um bom artista e não precisava disto. Que o caminho seriam as outras três canções e não estas dez. Mas é isto que temos. É isto que ouvimos.

Vale a pena pela originalidade das originais e pela tentação do pastiche. Ainda haverá muitos anos pela frente para marcar um cunho de gala. Fica a água na boca para o que se seguirá.

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Autor: Tiago Videira