DIXIT – EM ENTREVISTA

24 de Outubro de 2003

Para os Dixit o circuito está “topado”.

Os apoios são reduzidos, as mentalidades não mudam, ser músico em Portugal é limitador.
1993 é o ano dos primeiros passos dos Chromo Dixit. Vão-se juntando novos elementos no grupo, que cedo se reformula para Dixit, e dá o seu 1º concerto, jogando em casa, na Festa do Avante.
Em 10 anos, a luta pela consagração foi uma constante, e a força nunca pareceu extinguir-se. Em 99 vencem o concurso “Novas Vozes, Novos Talentos”, em Setúbal, sucedendo-se a edição de vários Eps, actuações, gravação de video-clips, e até mesmo a abertura de um concerto dos Clã.
Após 10 anos de luta, os Dixit, com letras totalmente em português, editam o seu tão desejado álbum, curiosamente intitúlado “Best Off”, que marca o retomar de uma nova linha de esperança.
O Inside esteve à conversa com o vocalista Zé Rui, o espelho da união e determinação que movem o grupo da margem sul.

INSIDE – Como aparecem os Dixit para a música? Recordem um pouco os tempos de garagem.
JOSÉ RUI – Surgimos após uma ideia de juntar melodias a palavras. coisas que eu tinha escrito, que após as mostrar a um amigo resolvemos trabalhá-las. Só mais tarde resolvemos juntar, mais gente para dar corpo a um projecto que viria a chamar-se Dixit.
Os passos seguintes foram: arranjar um local para ensaiar, e ai encontrámos a tal “garagem”(risos); fazer mais canções; tocar ao vivo (participar nos habituais concursos). Depois destes 10 anos, ainda continuamos na garagem, acho que os nossos tempos de garagem não terminaram.

INSIDE – Como nasce o nome Dixit? Há algum significado em ter um nome inglês numa banda que canta totalmente em português?
JR – Dixit significa “disse” em latim(a raiz da nossa língua). É toda a essência deste projecto, trazer para as canções as emoções transmitidas pela palavra.
A mensagem tem a mesma importância que a melodia.

INSIDE – A definição da música dos Dixit. Que mensagem querem passar?
JR – Somos somente uma banda Rock que tem histórias para contar, histórias da vida, das sensações. Um olhar sobre o quotidiano ( ás vezes crítico e irónico), a sociedade, os comportamentos, a vida. A mensagem é sempre o mais positiva possível.

INSIDE – Ao fim de 10 anos na estrada o 1º álbum de originais. O que tem faltado para a afirmação?
JR – Um mercado com capacidade para receber coisas diversas, que não viva só de nomes consagrados, que dê destaque a todos os projectos honestos e que tentam a todo o custo primar pela qualidade.

INSIDE – Acham que há ou continua a haver falta de apoio à música portuguesa?
JR – É claro que os apoios são reduzidos. Mas não é esse o grande problema. Eu acho que é a mentalidade de muita gente que gira à volta do mundo músical nacional. Comunicação Social, agentes, empresas de espectáculo, gerentes de bares, A.R´s de editoras. São na maioria gente preconceituosa, de vistas curtas… e com sentimentos de inferioridade no que diz respeito à maneira que tratam a música feita por portugueses.

INSIDE – Concordam com o tal preconceito, por vezes ainda bem real, que cantar em português por vezes pode ser limitador?
JR – Ser músico em Portugal é que é limitador. Temos exemplos de sucesso daqueles que resolveram exportar a nossa música e foram bem sucedidos (Dulce Pontes, Madredeus, Mariza), não é á toa que escolhi os exemplos de artistas que cantam na nossa língua. Não sou defensor fanático de que os Músicos devem cantar na língua materna, mas se querem passar sentimentos que o façam na língua que os sentem.

INSIDE – Voltando à própria música dos Dixit, o que é que vos inspira, quais são as vossas influências, musicais ou até mesmo artísticas?
JR – Musicalmente é difícil, nos tempos que vão correndo, dizer o que nos influência. Na banda gostamos desde música negra, até ao Rock mais pesado, passando por sonoridades étnicas, jazzisticas… É toda uma diversidade de sons e melodias que nos apaixonam e nos fazem também criar.

INSIDE – Foram 10 anos na estrada, a tentar passar a palavra. Há certamente muitas histórias para contar. Que noites recordam com maior gozo, ou que experiências marcaram a vossa carreira?
JR – Como disseste são tantas que será difícil enumerar uma. Costumo dizer que a nossa história ainda é muito recente para começar já a olhar para traz. Ainda temos muitas noites para mais tarde recordar. Para nós uma grande noite é quando depois de um concerto onde túdo nos corre bem, bebemos uns copos juntos e brindamos aos próximos.

INSIDE – 2003 é o ano de “Best Off”. Valeu a pena esperar e lutar por este disco? Foi importante o papel da Nemesis em todo este processo?
JR – Nem imaginas o quanto valeu a pena, foram 10 anos de luta. Agora temos ai a “bolachinha”, e queremos que o maior número de pessoas a oiça. O papel da Nemesis foi crucial. Como sabes a Iman Records é uma editora pequenina, e uma parceria como esta, no campo da distribuição e promoção, é crucial. Alem disso, a relação de amizade que temos vai para alem das relações
profissionais.

INSIDE – A partir de agora qual a meta a atingir?
JR – O próximo disco, mais gente a ouvir-nos e uma sempre ambicionada e sonhada internacionalização!

Pedro Vieira