DURAN DURAN: NO COLISEU, 20 ANOS DEPOIS

Rock e glamour, a aliança intemporal

“We are family/ I’ve got all my brothers with me…”. Assim cantou Simon Le Bon a meio do espectáculo que, na passada 3ª feira, invadiu e encheu, literalmente, o Coliseu de Lisboa. A celebração do regresso da “família dos Cinco”.

A formação original dos Duran Duran esteve em terras lusas, decorridas mais de duas décadas desde o último concerto, num espectáculo memorável que agitou as paredes do Coliseu dos Recreios no passado dia 24 de Maio.
Do início ao fim, o grupo formado em Birmingham (Inglaterra) em 1978 provou, com todos os trunfos, que continua a saber das cartas no mundo da música, com pompa e circunstância, mesmo que o seu auge tenha sido nos anos 80. A verdade é que os Duran Duran continuam a mover multidões, que decoram as suas letras e fixaram, talvez para sempre, o seu estilo inventivo que, sem dúvida alguma, revolucionou a indústria musical, mesmo na época em que se lançaram.
Ao vivo no Coliseu pela primeira vez (o último concerto tinha acontecido em Cascais), Roger, Andy, John, Nick e Simon, os cinco magníficos, souberam fazer valer bem os seus créditos ao longo de mais de vinte canções, que vieram dos álbuns mais antigos (como “Arena”, de 1984) até ao mais recente “Astronaut” (2004), responsável pelo feito de reunir novamente a formação original dos Duran Duran, e originar uma extensa digressão.

Eles entram em palco, um a um, rodeados de sombras. Ficam em frente ao público. Retiram-se, de novo um a um, e só Simon, a voz e “porta-estandarte” da banda, fica, coberto pelo seu já habitual glamour.
Uma entrada em grande estilo, que abriria caminho a um energético “(Reach up for the) Sunrise”, justamente retirado de “Astronaut”. Por entre sucessos antigos, como “I Don’t Want Your Love”, veio o belíssimo “Come Undone”, inesperado, acalmar a chusma já embriagada de tanto pular, cantar e gritar.
Um altruísta “What Happens Tomorrow”, também do ultimo álbum, recordou que irreverência não é incompatível com consciência – filosofia, de resto, sempre de mão dada com o percurso dos Duran Duran -, antes de enlouquecer o público presente com o clássico “A View to a Kill”.
Espantosa actuação ( e lá estava o video-wall por trás, insinuante) foi “The Chauffeur”, uma das canções do velhinho “Arena”, com direito a um Simon Le Bon de venda nos olhos e chapéu de motorista, meio voyeur meio masoquista, tal qual Madonna nos seus tempos áureos. Mais à frente, o público entoou sozinho “Save a Prayer”, de 1982, e o fantástico “Notorious”, antes de entrar em êxtase total e colossal com o muito aguardado “Wild Boys” – poderosamente interpretado por um Le Bon eléctrico e sempre a desafiar a assistência com aquela arrogância muito british que era, ao mesmo tempo, a alegria do regresso ao passado.

Findo o desfile, logicamente haveria encore – até porque a multidão alegremente enfurecida queria mais. E eles voltaram, para uma última parte memorável que incluiu a longa apresentação da banda (Simon foi apresentado por uma felizarda, retirada de entre o público em ombros por ele próprio). “The Reflex” começou, “Rio” terminou o único mas bem aproveitado encore, com direito à homenagem nacional feita com um cachecol de Portugal, que o vocalista colocou ao pescoço e levou depois pendurado no bolso.
“Um, dois, três, quatro”, assim cantava Le Bon e pulava com o público, enquanto John Taylor tocava o “fucking bass” gritado pelos presentes a mando de Simon e Andy Taylor arrancava rock à sua guitarra eléctrica. O discreto Roger Taylor também esteve na festa com a sua bateria, bem como os convidados Anna Ross – a voz negra que faltava-, e Andy Hamilton, saxofonista, além de Nick Rhodes: que, mesmo com vários teclados para tocar, ainda deu conta de uma câmara de filmar que exibia imagens para o vídeo-wall.

Palavras para quê, o final tinha chegado duas horas depois e notava-se que alguma falta de calor inicial no contacto do grupo com a assistência tinha sido largamente recompensada por uma extraordinária dinâmica em palco, em que os Duran Duran provaram que de dinossauros não têm nada, mas de intemporais muito, pela postura sempre teatral a acompanhar música bem feita e bem tocada. Até sempre, ou até nunca… para quando novo orgasmo colectivo entre nós?

Fotos: Pedro Cordeiro

Agradecimentos: Música no Coração /Cátia Maurício

Autor: Andreia Monteiro