Entrevista com Lloyd Cole

Lloyd ColePassou por Lisboa para apresentar o seu mais recente trabalho “Antidepressant”.
É um senhor que não esquece o passado, mas acha que cada tempo tem a sua maneira de estar.JI – Vamos começar por falar acerca deste seu novo trabalho “Antidepressant”? O que nos conta?

LC – Não é sobre nada em específico. O meu trabalho é um conjunto de músicas, as músicas que eu escrevo, e em “Antidepressant”, há músicas que escrevi aí pelo ano de 1997, e muitas delas nestes últimos anos.
Eu não tenho um objectivo específico quando escrevo as minhas músicas. As ideias surgem e eu escrevo-as no meu livro de apontamentos.
No entanto posso dizer que os meus dois últimos trabalhos falam um pouco de como passar pela meia-idade sem o sentimento de nos querermos matar.

JI – Neste trabalho, o Lloyd tocou todos os instrumentos. Foi muito difícil?

LC – Toquei todos, menos a guitarra que foi tocada por um Ex-Commotions, o Neil Clark.
Não é muito difícil fazer este tipo de trabalho, só que leva bastante tempo a fazê-lo.
Para mim, fazer música é colocar os instrumentos em comunhão uns com os outros, e não é tanto por ter sido eu a tocar a maioria dos instrumentos, até porque não sinto que seja brilhante a tocar algum deles. Penso que cantar é capaz de ser o que faço melhor… (risos).
A ajuda dos computadores, é sem dúvida uma ajuda fantástica, porque há pequenas coisas que se podem mudar na altura, e isso dá-nos uma quantidade infindável de opções. Dá para fazer muitas alterações, o que é espectacular.

JI – As músicas de “Antidepressant”, o Lloyd define-as como músicas de meia-idade. Acha que a música pode servir como um anti depressivo, à medida que vamos ficando mais velhos, ou mesmo servir como uma terapia?

LC – Sim, para algumas pessoas, tenho a certeza que é. Em conversa com algumas delas, foi-me dito que a música, as tem ajudado em certas alturas da vida.
Graças a Deus nunca ouvi ninguém dizer que a minha música tinha provocado uma sensação de mal-estar, ou mesmo contribuísse para um dia menos bom… (risos).
Não é um objectivo na minha vida, tornar-me uma terapeuta musical, mas se ela ajudar algumas pessoas ficarei feliz.
De uma maneira geral, as minhas músicas não focam problemas que provocam a depressão. Elas lidam com situações do dia a dia, o que pode ser uma ajuda.

JI – Em 20 anos de música, qual é o balanço que faz da sua vida. Foi difícil equilibrar a sua vida pessoal e a sua carreira. O que é que mais mudou?

LC – A maior mudança que posso mencionar, foi o facto de ter tido filhos.
A época em que tive os meus filhos curiosamente coincidiu com uma altura em que a minha carreira não ia tão bem. Sem dúvida eles foram a minha grande motivação para continuar a trabalhar, com mais vontade, com um ego a querer vir ao de cima, e com uma vontade de fazer coisas diferentes, e tentar fazer um dos melhores álbuns que pudesse fazer.
Quando se tem filhos, tem que se pensar neles, na sua educação, num tecto para eles viverem, e na sua alimentação.
Hoje em dia não penso tanto no meu ego. Quero fazer boa música, mas também tenho de aceitar, que tenho um padrão que tenho que seguir. Não escolho tanto e tento estar aberto a todo o tipo de trabalhos que me possam aparecer, o que de alguma forma é interessante porque também nos abre os horizontes.

JI – Pensa que os concertos acústicos, aproximam mais o público que vem para ouvir a sua música?

LC – Eu fiz bastantes concertos acústicos, durante 5 ou 6 anos, mas neste momento gostaria de fazer uma pausa neste tipo de espectáculos.
Os concertos nas Fnacs são um pouco diferentes, dos concertos ao vivo acústicos em salas maiores.
Isto não quer dizer que não goste, mas gostaria da próxima vez, de fazer um concerto com um pequeno grupo de pessoas, porque não estou sozinho em palco e isso acaba por provocar uma relação musical entre as pessoas que actuam comigo, e dessa forma projectar a música de uma outra forma.
Curiosamente sempre que tenho vindo a Portugal tenho tocado sempre noutros sítios que não em Lisboa, por isso acabou por ser uma espécie de estreia.

JI – Mudando um pouco de assunto. Sei que recentemente esteve na África do Sul, e que teve um episódio com um leão. Conte-me como tudo aconteceu?

LC – Penso que o facto de o leão ser bebé foi a minha sorte.
Havia nesse sítio, uma espécie de parque temático, onde se podia fazer safaris. Nós íamos num carro, e vimos imensos animais, leões grandes, que metiam realmente muito respeito e algum medo.
No meio do parque havia um sítio onde estavam os leões bebés e onde se podia tocar neles.
O meu filho quis tocar naturalmente num desses leões bebés, e eu expliquei-lhe que não lhe devia fazer festas de uma forma leve porque ele poderia achar que era um insecto, e fazer algum movimento mais brusco.
Enquanto o meu filho lhe estava a tocar, eu vi um outro que estava lá com um ar mesmo meiguinho, meti lá a mão e ele tentou-me morder. Na realidade o que ele queria era brincadeira, mas já se sabe como são as brincadeiras dos felinos.
Felizmente nada de grave aconteceu.

JI – Teve oportunidade de visitar Lisboa?

LC – Não, infelizmente não tive oportunidade.
Ontem foi o único dia que tive mais livre, mas como houve um problema com o voo para cá, acabei por não descansar e por não ver a cidade.
Tinha planeado fazer uma visita guiada mas acabou por ser mesmo impossível.

JI – Depois desta passagem por Portugal, por onde vai andar a mostrar o seu último trabalho “Antidepressant”?

LC – Depois deste concerto, estarei na Bélgica, Irlanda, Estocolmo, Berlim, Paris.

JI – Muito obrigado

LC – Obrigado

Foto: Pedro Filipe

Autor: Sandra Adonis
Data: 23 Setembro 2006