Entrevista com Roberta Medina
Directora do Rock in Rio Lisboa 2006
Roberta Medina é ainda uma jovem, mas o talento e o trabalho já estão mais que reconhecidos, ainda para mais com a herança que tem, de um homem que criou um Festival Mundial que está mais que implementado na vida das pessoas
JI – Quando é que decidiu que gostava de se envolver num projecto que se chama “Rock in Rio”?
RM – Não foi bem pelo Rock in Rio que eu ganhei o gosto, foi mais por uma outra coisa que se chama: Produção.
O Rock in Rio é uma coisa que eu via desde pequena, até porque o meu pai é uma pessoa muito envolvente, um sonhador que faz com que tudo o que pensa e fala, pareça que é possível. Então a frase chave que me ficou é: que nada é impossível.
Comecei por me envolver e trabalhar num espectáculo da Disney, através de um convite que foi meio estranho. O Organizador era um cliente do meu pai, e quando viu que eu estava tão envolvida, perguntou-me se eu queria trabalhar no espectáculo e eu para dizer a verdade achei que ele estava a gozar (risos), só que uma semana depois ele voltou-me a ligar a perguntar se eu não ia aceitar o convite, e eu aí não pensei mais e fui.
Uma coisa engraçada é que mesmo tendo vivido os eventos que pontualmente o meu pai realizava, eu não tinha noção de como as coisas se faziam, principalmente no 2º Rock in Rio que é o primeiro que eu me lembro melhor.
Quando fui trabalhar neste espectáculo, comecei a ter noção do marketing, porque eu fazia a ponte com a equipa de produção, e o que aconteceu é que um mundo novo abriu-se à minha frente, e eu automaticamente identifiquei-me com a parte que trata de todos os pormenores, para que um evento aconteça.
Continuei a trabalhar noutros eventos, e acabei por ir trabalhar na agência do meu pai, por causa da Árvore de Natal do Rio de Janeiro que já se faz há 10 anos. A primeira Árvore de Natal, eu fiz para a empresa de produção que trabalha para ele, e a segunda vez já me chamaram para fazer a ligação entre o cliente e a produção, e de tudo o que a envolvia.
Experimentei outros trabalhos, mas não me seduziram, acabei por perceber que o que eu gosto é de fazer produção e acabei por montar um departamento de eventos, para onde acabavam por mandar até algumas ideias mirabolantes.
Em 2000, o meu pai vendeu o Rock in Rio, e como eu era o link com as empresas de produção, resolvi juntá-las todas para o meu pai distribuir as tarefas porque lá no Brasil é um pouco diferente do que aqui que se consegue trabalhar com uma equipa. Há muitas empresas envolvidas. Depois de tudo organizado no fim dessa distribuição, o meu pai disse que eu era a coordenadora da produção. Eu fiquei a olhar para ele, e depois de muita insistência eu acabei por aceitar o cargo. Como coragem não falta e adoro desafios aí fui eu para mais uma aventura.
Entretanto, foi criada a “Dream Factory”, uma produtora de eventos, e eu fiquei à frente no Brasil.
Quando vim para cá, foi o meu irmão que ficou à frente da empresa. E agora cá estamos para mais um evento.
JI – O Rock in Rio mais do que uma grande festa é um festival com uma componente social que é a sua base. Fale-me do que implica essa componente-
RM – Eu tenho o privilégio muito grande de ter entrado no 3º Rock in Rio que foi precisamente, a altura em que esta festa deixou de ser só um festival de música e passou a ser, um festival de música, de entretenimento, por um projecto social, saído da crença de um homem.
Naquele momento o Rock in Rio mudou de perfil, não deixou de ser o encontro das maiores bandas internacionais, mas o palco deixa de ser um só, passando a haver mais palcos, com um dia inteiro de festa, que é dedicado à família, aos amigos, às crianças, ou seja passou a ser muito mais amplo.
O Projecto Social surgiu com uma crença do Roberto.
O Rock in Rio no Brasil, é uma paixão. Aconteceu pela primeira vez em 1985, e acabou por ser uma espécie de Woodstock para o país. Foi uma explosão de emoções para todas as pessoas e acabou por ser o centro de comemorações que marcou a vida dessas pessoas. Houve casamentos, pessoas que montaram empresas. Ali fez-se história.
Posso dizer que este é um evento carregado de amor, porque tem o amor das pessoas, e por isso este evento tem o interesse dessas mesmas pessoas.
Quando se fala hoje em dia em Rock in Rio, há muitas pessoas que querem ir, e o Roberto percebeu isso, e percebeu que tinha um canhão de comunicação nas mãos que podia ser usado para passar uma outra mensagem. Assim nasceu um festival “Por um mundo melhor”.
“Por um Mundo Melhor “ sai de uma crença muito pessoal, e nasce mesmo antes do marketing social, até porque eu como filha muitas vezes antes de ir dormir, ficava a filosofar com o meu pai sobre o mundo. O mundo está a reclamar atenção urgente e todos têm de olhar para ele e pensar no que poderão fazer por um mundo melhor, porque um mundo doente não serve para ninguém.
Se as pessoas virem um cartaz a dizer “Rock in Rio – Por um Mundo Melhor”, e se não souberem do que se trata, vão ficar curiosos. Se o festival se chamasse “Maçã”, as pessoas ficariam curiosas também. O que eu quero é que as pessoas se questionem acerca de que mundo melhor é esse que pode existir.
Eu sinto orgulho de ser a pessoa que está à frente deste projecto e ter a possibilidade de fazer a minha parte por um mundo melhor.
JI – Já foram inauguradas algumas Salas de Estimulação sensorial. Vai haver mais inaugurações?
RM – Ao todo vão ser inauguradas 10 salas. Já foram inauguradas 2, e as outras 8 vão ser inauguradas antes do festival, só não vai haver mais cerimónias de inauguração.
Estas salas vão ajudar crianças a ter sem dúvida uma vida melhor.
JI – Quais vão ser as inovações para este Rock in Rio Lisboa 2006?
RM – Há um grande desafio. Fizemos um estudo de mercado, para saber o que é que as pessoas tinham achado do Rock in Rio Lisboa 2004, e a nota foi bastante alta, mas mesmo assim nós aprendemos muita coisa em termos de dinâmica do parque, e decidimos fazer algumas alterações.
A distribuição dos bares vai ser diferente, e com um melhor acesso, as casas de banho vão estar mais distribuídas e de uma forma diferente de há dois anos atrás.
A Tenda Electrónica está completamente mudada cheia de tubos de PVC, e de uma maneira geral visualmente falando, vai estar tudo muito diferente.
Vai haver também uma pista com neve que é verdadeira (uma mistura nitrogénio com água que sai com pressão), e depois é espalhada.
A Área Kids, é também uma inovação, e que achámos que é importante, depois de há dois anos termos visto muitas pessoas com bebés e crianças.
Espero que todos se divirtam muito, todos sob a mesma bandeira de Paz, Optimismo, Esperança, Solidariedade, Respeito e Alegria.
Fotografia: Agência Zero
Autor: Sandra Adonis