Fernando Fernandes – Eu Aqui
Fernando Fernandes (FF) está no topo das preferências musicais dos Portugueses. Descubra porquê!
O menino “Tomé”, da novela Morangos com açúcar da TVI, é a nova coqueluche do panorama musical Português. E isto, por si só talvez ajude a explicar muito do fenómeno. É que na realidade, a televisão tem ajudado a potenciar o mercado discográfico nacional nos últimos meses. Assim se explica que artistas como João Pedro Pais, Rita Guerra, Paulo Gonzo, que começavam a ficar esquecidos, se tenham revitalizado como que por magia quando as suas canções começaram a fazer parte da trilha sonora das novelas de horário nobre.
Entre os jovens o fenómeno é ainda mais agudizante: não só as músicas se intersectam no plano vivencial do seu dia a dia, como os próprios artistas aparecem no ecrã. O fenómeno DZRT é um exemplo vivo disso.
No entanto se este último poderia ser considerado bastante discutível, o mesmo não se passa com FF (o seu talento já era reconhecido, basta lembrar que ganhou o Bravo Bravíssimo de 1999). É que FF é uma lufada de ar fresco, na por assim dizer, música enlatada que se tem feito ultimamente. Os cantores pop de alguma qualidade reconhecida como João Pedro Pais ou Anjos, asseguraram aqui um seguidor à altura.
O disco “Eu aqui” tem um alinhamento com 11 faixas totalmente cantadas em Português, mas que nem por isso deixam de ter lógica e coerência. Forma um bloco compacto, que se ouve do princípio ao fim, sem cansar, e sem grandes ondulações. No entanto os cromatismos e as modulações existem em cada trecho, numa dose quanto baste para lhe emprestar um tom de sofisticação.
Logo a abrir, temos o Single “O Verão não acabou”, um pequeno pop, com bateria, piano e guitarra eléctrica, evocando um Verão e uma paixão que ficou incompleta. Arranjos simples, numa melodia suave e coros festivaleiros.
Segue-se “Aqui sem ti”, uma faixa que começa com um sample invertido, para se resolver num ostinato melódico em piano, numa balada sintetizada, algo fraquinha e melancólica, evocando a monotonia dos dias que passam sem o amor que queremos.
Pela primeira vez, FF, mostra o seu falsete muito bem conseguido, no entanto sem garra suficiente, para nos comover.
“Tu és quem já amei”, é a faixa que se segue, com uma entrada a fazer lembrar um pop de Coldplay, para logo a seguir se desfazer em riffs de guitarra eléctrica e piano, bem ao estilo dos Anjos. A letra, essa continua a temática monocórdica do amor, que temos vindo a assistir.
“Mostrar-te quem sou”, entra logo a matar com acordes de piano em fúria e coros em lamento. Aqui vem mais uma balada de amor fracassado. A toada que tanto parece agradar às nossas jovens sonhadoras, está aqui muito bem representada. A canção começa a ganhar garra e FF, começa aqui lentamente a crescer na interpretação.
“Tudo o que quero”, também entra em piano, e com galhardia. Desta vez o nosso FF, mostra-se optimista, dizendo que “querer é o truque para ter”, e solta-se num falsete brilhantemente conseguido emprestando-nos sensação que vamos ter canção, e realmente vamos. No melhor estilo do festival dos anos 90.
“O que é bom é para se ver”, retoma a ideia do sample invertido para iniciar, para se resolver em velocidade numa bateria e num piano energéticos. FF, continua a mostrar alegria e coragem, a contrastar com a melancolia do início do álbum. A temática mantém-se constante: o amor. No entanto, aqui já é tratada com optimismo, e o apelo à conquista está cada vez mais patente, na realização do objectivo. A aura é de sol.
“Sei que sou capaz”, parece destoar um pouco aqui. Começa numa toada menor e sombria. É talvez a canção mais “devilish” do álbum. Aqui FF, ajudado, por guitarras eléctricas e sintetizadores, evoca o poder e a chama que precisa para ser feliz. Ele diz que quer ser bem sucedido, e quer ajuda. Está a atravessar o Inverno do seu percurso, mas optimista. Sabe que vai lá chegar e quer conseguir, mas exprime-o num tom melodramático de banda sonora, quase a lembrar um rock sinfónico de Nightwish.
“Talvez um dia” é mais uma balada de charneira. O piano lento e em acordes que progressivamente se vão encadeando com a bateria lenta e com o sintetizador, volta a trazer-nos das sombras, para uma realidade difícil. FF começa a questionar a sua capacidade de conseguir o amor. “Terá sido a viagem em vão”? Uma canção de dúvida.
“Sem estares aqui”, é como que uma resolução da canção anterior. FF, reconhece que não é possível ignorar tudo o que se passou. Mostra-se convicto que o amor parece inevitável. Que tudo “é banal e não faz sentido sem tu estares aqui”. Isto cantado com alguma alegria contida e um falsete leve. Depois vem uma sugestão para a amada, de como o amor tem de vencer e uma abordagem claramente convidativa.
“Saltar para outro lugar” é o momento de viragem. O piano empresta uma balada em que FF, se retrata, como um ser que parece ter fracassado o seu objectivo, mas que mesmo assim não deverá nunca desistir e que “amanhã vai acordar e perceber que sem lutar não poderá vencer”. A canção pela primeira vez extrapola para lá do amor.
“Eu aqui” apresenta-nos o desfecho. Um pop/rock enérgico, com as guitarras e o piano, a mostrarem o FF tal como ele é: um ser livre, resignado por estar sozinho, mas ao mesmo tempo, contente por estar disponível para amar e feliz por não ter receios. É um final e ao mesmo tempo um retorno ao ponto zero, em que se reconhece que o amor passou, mas que há espaço para recomeçar.
Na súmula, um disco que nos conta uma história típica de um jovem adulto, que conheceu o amor, o perdeu, e tudo o que passou para voltar a acreditar. Uma temática recorrente nos dias que correm e que por isso mesmo tão apelativa e identificativa é sociologicamente para todos os nossos jovens.
Indispensável a qualquer romântico sonhador, que goste de um som leve de fundo e precise de espairecer.
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Autor: Tiago Videira