Lula Pena

Ciclo de concertos comissariado por Filho Único

Sabemos que no passado estudou desenho, parou, tocou nas ruas em Barcelona, partiu para Bruxelas, onde atuou em bares e em clubes de jazz.

Lula Pena (n. 1974) regressou à esfera pública nacional com a edição do seu disco Troubadour em 2010, depois de cerca de doze anos de relativa discrição, desde o período do primeiro disco Phados. Troubadour, e os seus concertos desde então assim o têm confirmado, tornou claro o estádio admirável de transformação “em autora (de) alguém que nasceu como intérprete”, como afiançava a editora Mbari à altura do lançamento do novo registo.

A intuição e prazer da citação que tinha sido sua marca processual emblemática, parece ter mutado para um plano maturado de identidade autoral insofismável. No fundo, todos aqueles anos distantes da arena pública foram anos também da evolução de um estilo próprio, oferecendo ecos do fado, da bossa, da canção francesa ou do tango, de toda e qualquer maresia geográfica que se lhe aprece matéria para o seu trabalho que parece partir do “pasmo essencial que tem uma criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras”, como dizia Pessoa.

A sua gestão do silêncio é esmagadoramente singular, o domínio personalizado da voz com uma guitarra tocante, tendo-se vindo a tornar cada vez mais um tesouro partilhado de todos os lusófonos de coração, e que a tem levado justamente no último trio de anos a expandir a sua atividade ao vivo para fora de portas, na Europa e no Brasil. Tocou na Alemanha, França, Itália, Holanda e para o Rei Mohammed V em Marrocos, depois da Orquestra Real e com Rabih Abhou-Khalil por perto. Faz-lhe confusão a velocidade que considera ser “uma coisa que não é humana” e que o seu é um “trabalho que vem de dentro para fora – [o de] tentar perceber a tecnologia humana”.

Cada concerto seu prima pela partilha única com o público, uma comunhão ritual da descoberta da criação, de momentos e reações que existam exclusivamente numa ocasião. Nada menos nobre que isto podemos esperar nesta noite do seu regresso há muito querido à cidade Invicta. Filho Único

Autor: pires