RÁDIO MACAU – OITO

Os Rádio Macau regressam com Oito. Um olhar virado para o infinito simbólico e ao mesmo tempo um regresso acidental ao passado.

Quem ouve este disco tem a sensação de ter caído nuns anos 80 alternativos. Como se a curva infinita do tempo se tivesse desprendido da sua dimensão e nos potenciasse “outros rádio Macau”. Os rádio Macau que poderiam ter existido nos anos 80, mas que não existiram. Os alternativos num outro espaço-tempo.

Este disco, como assumido por Xana e Flak, é assim mas poderia ter sido outra coisa. Cada um fez o que soube fazer melhor e os temas foram gravados em estúdio como saíram. Poderiam ter saído outros arranjos, mas foram estes. Um regresso a uma atmosfera mais genuína e mais pop, um álbum a deixar cair os experimentalismos sintéticos de princípio de século vistos “Onde o Tempo faz a curva” e no “Acordar”.

E deste disco se pode saudar a melancolia e a acústica que tão bem caracteriza a sonoridade que serve de pano de fundo a uma tertúlia de jogos de cartas. “Levo-me no Voo das Minhas Asas” abre com um dramatismo que logo de seguida cai para deixar a nu todo o poder unplugged que o grupo tem. Segue-se o tema forte do álbum, a “Cantiga D’amor” que empresta um tom suave e relaxante. As palavras desenrolam-se com tanta facilidade que Xana poderia dizer o que quisesse. A diferença entre “que te iluminasse o olhar” ou um eventual “o enclave de Nagorno-karabakh” é residual. Passando o exagero, a verdade é que nos deixamos encantar pelo tema que somos levados para longe, longe e as palavras perdem significado no contexto.

Depois destes pratos fortes o disco começa a perder em encanto e a ganhar em alguma solidez. Já estamos agarrados, a partir daqui venha o que vier soa a uma certa redundância, uma sonoridade que já mostrou o que vale, que vale a pena e por isso é só deixarmo-nos ir que nunca nos fartaremos. “Entre as memórias e o sonho” acelera por aí fora, é só seguir pela estrada sem curvas. Nos “Sonhos impossíveis” há que atentar a uma fantástica gestão do tempo instrumental, que se sobrepõe claramente numa letra demasiado curta. Peixe bem rendido. Já a “Estrela Peregrina” nos soa como uma infantilidade naïve. “O astronauta” por seu lado é um regresso claro ao passado. Uma toada um pouco mais pesada mas com sonoridades bem rock quase psicadélico. “O Tempo Comum” desfila como uma quase balada de piano que não se chega a perceber bem se é de amor ou de depressão. O que torna a suceder em “Quando entro nos teus olhos” e em “Quando uma rosa morre”. A melancolia e o amor parece que andam de mãos dadas neste álbum. O amor não é uma coisa muito feliz. “Por linhas tortas” traz-nos de novo energia num rock à maneira em que é possível abanar o capacete. “Este frio da manhã” empresta uma surpresa na voz masculina. Numa sonoridade mais a escapar para o pop é uma canção de segunda linha que poderá despertar com as audições subsequentes. “Este Macau que não dorme” fecha o álbum num registo a caminhar para o infinito e a remeter para o solo instrumental que se eterniza no prolongamento das palavras que se esvaíram sem deixar rasto.

Um álbum a merecer atenção, sobretudo dos fãs que só conheceram a banda do século XXI e que poderão ter uma surpresa pelo contraste do passado.

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Autor: Tiago Videira