TORI AMOS
AMERICAN DOLL POSSE
A mais famosa pianista ruiva do mundo regressa em força com um novo álbum. O Lançamento é só dia 1 de Maio, mas revelamos-lhe em antemão o que ai vem.
Tori Amos regressa em força com um álbum maduro cheio de convicções políticas. A política é uma coisa pessoal e a opinião é para ser expressa livremente em intervenção de forma que não se poderia fazer há vinte anos atrás. Este é o primeiro mote, de alguém que surpreende a poesia e a pop alternativa, agora entrelaçada com a intervenção.
O segundo, a despersonalização de si e o encarnar cinco figuras tipo, cinco mulheres que gritam a plenos pulmões. Tori, qual Fernando Pessoa, cria cinco alter-egos que irão cantar à vez as diversas faixas do álbum, cada uma com as suas subtilezas e manias muito próprias.
Isabel é baseada na Deusa grega da caça Artemisa. É fotógrafa, loira e uma sofisticada senhora na intervenção política. Canta com vigor as faixas “Yo George”, “Mr. Bad Man”, “Devils & Gods”, “Almost Rosey” e “Dark Side Of The Sun”.
Clyde é uma personificação da rainha do submundo Perséfone. Trás a mágoa no peito e sente-se alguém que nunca atingiu a plenitude, sendo por isso incompleta e irrealizada. Permanece, contudo, idealista e persegue ainda a busca das suas crenças. É a voz de Bouncing Off Clouds”, “Girl Disappearing”, “Roosterspur Bridge” e “Beauty Of Speed”.
Pip é baseada na Deusa grega da Guerra e da Sabedoria, Atenas. É uma guerreira e põe as suas ideias permanentemente em confronto. Canta “Teenage Hustling”, “Fat Slut”, “Body & Soul” (com Santa), “Velvet Revolution” e “Smokey Joe”.
Santa reencarna a deusa da beleza e o amor Afrodite. Sensual, apaixonada e provocatória vai-nos tentar conquistar com You Can Bring Your Dog”, “Secret Spell”, “Body & Soul” (com Pip), “Programmable Soda” e “Dragon”.
Tori é baseada nos deuses gregos Demétrio e Dionísio e é entendida como sendo uma caricatura da própria Tori Amos original. Aparece segurando uma bíblia na mão e a palavra “vergonha” escrita na outra. Canta-nos as faixas “Big Wheel”, “Digital Ghost”, “Father’s Son”, “Code Red” e “Posse Bonus”.
A acompanhar a criação destas cinco personalidades fictícias estão os blogs das respectivas que foram colocados online como estratégias de marketing. Quem sabe se já não calhámos a tropeçar num deles por acaso?
Quanto ao disco em si, corresponde ao alinhamento das vinte e três faixas anunciadas acima. Este número extenso e pouco usual vai numa linha de afastamento psicológico em relação aos standards da indústria musical que cada vez menos sentido faz. O tempo psicológico da música deixa de ser entendido como três minutos e temos músicas muito curtas (algumas com quarenta segundos), enquanto outras se estendem.
O próprio videoclip se afasta do mainstream estando a circular pela internet e no youtube, e parecendo ser muito caseiro e artesanal. Nele as cinco personagens aparecem à vez, fazendo poses fotográficas para as irmos conhecendo.
As faixas em si, trazem o que de melhor Tori sabe fazer: tocar piano e cantar. Sempre em linhas bem trabalhadas com harmonias simples embora com encadeamentos nem sempre ortodoxos e tonais e com melodias que nem sempre entram no ouvido à primeira. Este disco é para ser ouvido várias vezes até ser digerido, e as letras com mais atenção ainda.
Destaque ainda para a aparição do Cravo e do Wurlitzer a espaços.
Um disco para ficar para a história, certamente.
http://musicologo.blogspot.com
Autor: Tiago Videira