BONDE DO ROLÊ
WITH LASERS
Chega em Junho o disco de originais do maior produto de exportação urbana Brasileira recente. O Bonde do Rolê chegou para arrasar, mas vazio de sentido.
Depois da tradição Brasileira nos ter habituado a músicos de alto nível com complexidades harmónicas e melódicas maravilhosas, com nomes ao nível de Tom Jobim, Caetano Veloso ou Villa-Lobos, eis algo completamente diferente. E não necessariamente melhor!
Os Bonde do Rolê inserem-se numa sonoridade claramente Funk brasileiro, misturado com psicadelismo dos anos 80 urbanos europeus. As letras fazem lembrar as tentativas de libertação do hip hop, só que ao invés de transmitirem alguma mensagem (seja ela política, social ou ambiental), apenas transmitem (em português do Brasil) xingada e vulgaridade. Apelam forte à libertação sexual e aos palavrões. Irreproduzíveis aqui, deixo ao critério dos sádicos que sintam que não têm quem os insulte no dia-a-dia, que então cheguem a casa e se sintam insultados com esta música.
A melodia não existe. As vozes são gritos e grunhos sem afinação possível e completamente desgarradas. Um primitivismo que deixa algo a desejar. As harmonias estão completamente contaminadas de urbanismo e tecnologias cibernéticas onde os samples se repetem sem cessar e sem trazer nada de novo.
Em resumo: uma completa vacuidade e falta de sentido em todo este conjunto. O disco passa por ser uma contradição ontológica do que deveria ser um produto de qualidade exportado de uma cultura. É a anulação da própria cultura pelo insulto, pela vulgaridade e pela destruição de todos os cânones agregados ao que tem sido a música brasileira até então. Poesia e harmonia estão completamente destruídas e despragmatizadas num delírio de uma sociedade decadente e bem marcada pelas abruptas diferenças sociais.
Se atentarmos à urbe Brasileira de hoje em dia, à sua falta de cultura, ou melhor a toda uma etnicidade das favelas, à insegurança nas ruas, começamos a perceber melhor todo um contexto e aí talvez se comece a perceber porque Gabriel o Pensador faz sentido. A canção de protesto, a canção que subverte e intervém contra a sociedade reinante.
Agora o Bonde do Rolê, dentro do abismo em que está essa mesma sociedade, foi mais longe. Não só chegou à beira do abismo, como deu o passo em frente e mergulhou bem no fundo. Um disco para reflectir urgentemente sobre como foi possível ter-se chegado a este estado de coisas, com muita pena. Muita pena mesmo!…
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Autor: Tiago Videira