Entrevista com Sam The Kid

Entrevista com Sam The Kid1. Em termos de personalidade, como é a tua relação com o mundo, com as pessoas?

É essencialmente uma pessoa comunicativa que procura estar bem na relação com o mundo e com as pessoas à sua volta. Escolhe com quem está em função de elos comuns que promovem a sua aprendizagem musical e pessoal. Nas suas relações com outros artistas partilha as suas ideias em relação a técnicas sem receio de ser “samplado” e pode ser até uma oportunidade de aprendizagem com os outros.

2. A tua escríta é muito pessoal e marca uma posição, o que te leva a escrever? Ou que propósito te serve escrever? Qual é o tipo de mensagem que pretendes passar?

Iniciou o exercício da escrita em 1988 quando compunha rimas e versos . A descoberta das palavras foi progressiva, e mais tarde, das simples rimas passou a uma fase silábica em que começou a partir as palavras em sílabas e através da fonética, brincar com elas e carregá-las de múltiplos significados, por vezes até 3 significados numa só palavra.

A escrita é a forma que tem de comunicar o que se passa dentro de sí e o que observa atentamente ao seu redor. Utiliza uma linguagem metafórica e simbólica para compor as suas letras, que contam histórias, repletas de pormenores. Os textos são enormes.

4. Lançaste o 4º álbum Pratica(Mente). Que ideia esteve na origem deste álbum e que novas ideias gerou. Ou Em que é que cresceste aprendendo ao produzir este album de originais?

Este álbum foi totalmente diferente dos outros porque foi gravado em estúdio. Ao contrário dos anteriores Entre(tanto) (1999), Sobre(tudo) (2002) e Beats vol.1 – Amor (2002), que foram gravados no seu estúdio caseiro. Outra das novidades é a utilização de instrumentos orgânicos com as batidas e samples, sempre numa perspectiva de experimentação e descoberta de novas formas de criar a sua música.

5. Qual está a ser o feedback do público e dos media?

Tem tido bom feedback do público e dos media e tem a sensação de que alcançou mais pessoas do que os anteriores, e pessoas de diferentes grupos sociais. Samuel diz-nos que até mesmo sabendo que as suas obras musicais são copiadas e vendidas ilegalmente em feiras e afins, sente algum orgulho.. porque é solicitado, mesmo que nunca chegue a ver a compensação pelo seu trabalho.

6. Na música 5 do pratica(mente) incentivas o pessoal a produzir música e na descoberta desse mundo e da auto-libertação através da criação.

-Qualquer pessoa pode criar música em sua casa? Conselhos práticos p alguém q quer iniciar.

Não ficar parados! Usar aquilo que têm. Começou por comprar uma caixa de ritmos, e criou um objectivo de comprar o material básico que precisava. Deixou a dica que se deve fazer porque se quer fazer. “quando crias forçado é porque perdeste a fome” diz Sam the kid. Os seus CD’s de batidas já vão no volume 50, comentou.

-Dificuldade em entrar no mundo da música

não teve grandes obstáculos, teve sorte. A ideia é não ficar a choramingar e produzir, acreditar naquilo que se faz e fazer.

-Como é que uma pessoa se torna visível no mundo da música em geral?

Samuel Mira confessa que não está muito esperançoso em relação à questão das editoras e comentou que até tem uma faixa que não foi editada, chamada “As editoras vão Baikar!” (sendo baikar o sinónimo de morrer), em que se refere à pirataria que retira os lucros às editoras, o que significa que os artistas não são recompensados pelos seus trabalhos. Diz que se sente isso na pirataria de rua.

7. Numa entrevista disseste que gostavas de criar músicas intemporais. Como vês hoje a música que produziste no passado?

“Não consigo ouvi-la..” Considera a sua música como um processo de aprendizagem e de mudança pessoal, e na evolução enquanto artista procura olhar para o novo e diferente que pode fazer, para novas possibilidades. Tem o objectivo de fazer um disco que permaneça no tempo. Busca uma comunicação mais concreta ou universal através de uma mensagem sempre mais clara.

8. Ainda relativo à produção de música e nomeadamente ao hip-hop/rap, poderia ser feito algo utilizando este género musical, no sentido de integrar socialmente casos de delinquência e banditismo? Participas ou conheces iniciativas que estejam a ser desenvolvidas neste âmbito?

Não faz muitas participações neste tipo de causas filiado em organizações em particular. Faz o natal dos hospitais e uma ou outra colaboração pontual com associações de apoio social. Samuel prefere ajudar pessoas no seu dia-a-dia, por exemplo tirar pessoas da rua e pô-las a fazer ritmos e rimas, dando um propósito melhor às suas tardes, encaminhando-as para algo mais positivo.

9. Em que tipo de projectos tens participado e que causas apoias com a tua música?

Referiu o nome da associação Khapaz (margem sul), com quem colaborou numa das iniciativas sociais.

10. Podes deixar uma mensagem para os novos produtores, não só de hip-hop, mas também de outros géneros, projectos de originais, colaborações entre musica, teatro, cinema e instalações artísticas que não estão visíveis, apesar de apresentarem trabalhos interessantes?

“Terem confiança, não ficarem desanimados e continuarem a acreditar. Mas se ficarem desanimados, então ponham isso na sua arte”.

Foca a importância da ligação e intercâmbio de pessoas de diversas áreas para partilhar ideias e acrescentar criatividade aos projectos. Sam tem ligações no mundo da música, dos filmes, através da sua relação com filmagens e gravações, e gostava agora de aumentar as suas redes para pessoas das palavras, para continuar o seu percurso musical e pessoal, acrescentando novas ideias e desenvolvendo a sua imagem.

Cortesia: Bruno Rosa
(myspace.com/aqu4manco)

Autor: Paulo Cardoso Ribeiro